O Batuque do Rio Grande do Sul
Para entender a riqueza das formas de expressão do componente africano em solo sulino é necessário verificar a formação histórica do Rio Grande do Sul, principalmente na cidade de Porto Alegre.
A pesquisa histórica sobre o atual Rio Grande do Sul data do início do século XIX. O grande estímulo foi a transferência da sede do império português para o Brasil, que neste momento deixou de ser colônia.
A primeira obra de caráter histórico foi Anais da Capitania de São Pedro, de José Feliciano Fernandes Pinheiro, Visconde de São Leopoldo. O primeiro volume de seu trabalho foi publicado em 1819, ainda quando o Rio Grande do Sul era capitania. A figura de Fernandes Pinheiro personifica exemplarmente o que significa pesquisar e “fazer historia” no Rio Grande do Sul na época.
Um dos historiadores que sucederam Fernandes Pinheiro na tarefa de pesquisa e publicação de trabalhos historiográficos sobre o Rio Grande do Sul foi Antônio Álvares Pereira Coruja, tendo publicado varias obras desde a década de 1830. Coruja produziu lições da história do Brasil e sobre a história do cotidiano de Porto Alegre. O professor Coruja descreve os primeiros tempos da cidade de Porto Alegre.
Ao explicar a origem da denominação beco do leite, lembra que ali residiu o alfaiate Manoel Leite, conhecido por ser “amigo de boas patuscadas aos domingos com os rapazes e caixeiros”. Menciona a famosa casa em que moravam “moças cantadeira, e que dizem que cantavam bem, aonde aos domingos iam moços passear”. Informa que, no Candomblé de Mãe Rita, os negros se reuniam no domingo à tarde para cantos e danças.
Coruja é um dos primeiros a dar notícias sobre rituais da religião africana, citando a casa de Mãe Rita, a primeira mãe de santo que se tem registro na cidade de Porto Alegre. Nesta época já se tem vestígios da estruturação do Batuque em Porto Alegre, e no Rio Grande do Sul.
No ano de 1997 a Companhia Estadual de energia Elétrica CEEE, publica um almanaque com o título História Ilustrada de Porto Alegre. Em um dos capítulos menciona os Batuques da Mãe Rita com o seguinte conteúdo:
Até a segunda década do século 19, nas procissões de Nossa Senhora do Rosário e nos dias de Natal, os negros costumavam expressar sua religiosidade da forma mais espontânea: dançando na frente da igreja matriz, com guizos e ao som de tambores, marimbas e urucungos. Exibiam a mesma naturalidade mostrada nos Batuques do terreiro de Mãe Rita, a mãe de santo da época – a primeira que se tem noticia na cidade.
Nenhuma autoridade religiosa da Matriz, como era chamada a igreja Madre de Deus, havia se importado até então com esta manifestação de ecletismo religioso. A exceção foi o vigário José Inácio dos Santos Pereira. Ele proibiu que executassem rituais africanos ali, com a alegação oficial de que a vizinhança reclamava do barulho. Mas os negros se consideravam expulsos. E partiram para um empreendimento arrojadíssimo: a construção de sua própria igreja, ou melhor, um templo católico em que se sentissem à vontade.
Durante dez anos, de 1817 a 1827, eles trabalharam na obra: à noite, os escravos; em horas vagas do dia, os negros alforriados. Enfim, na festiva noite de 24 de dezembro de 1827, receberam com lágrimas nos olhos a imagem da padroeira, que se encontrava na Matriz. Estava inaugurada a igreja Nossa Senhora do Rosário, na então Rua da Bandeira, mais tarde denominada Rua do Rosário e, por fim, por certa ironia, Rua Vigário José Inácio, homenagem ao sobrinho do padre que expulsara os negros.
Na verdade, o novo templo não foi resultado de mera ação de voluntarismo. Foi a Irmandade de Nossa Senhora do Rosário e São Benedito, entidade fundada em 1786, na qual os negros eram maioria, que comprou o terreno e comandou a construção. Enquanto duraram os trabalhos, as festas se resumiram ao de sempre: batuques nas tardes de domingo fora do centro urbano, em frente ao matadouro, mais ou menos onde é hoje a esquina das avenidas João Pessoa e Venâncio Aires.
Embora tombada pelo Patrimônio Histórico Nacional, no início dos anos 50, a antiga igreja foi demolida, para ser substituída pela atual – a pedido de religiosos católicos e por decreto do então presidente Getúlio Vargas.
A presença do negro no estado do Rio Grande do Sul se expressa na própria história deste estado que, em seus principais momentos, de um modo ou de outro, contou com o testemunho e a ativa participação dos afrodescendentes.
Com os primeiros colonizadores, já vieram escravos, que chegaram a ser um terço da população da província na metade do século 19.
Por volta do ano de 1600, traficantes portugueses já traziam escravos do Rio de Janeiro para revender no Rio da Prata. “Desembarcavam a carga em vários pontos da costa, na barra do Rio Grande ou mais abaixo no Chuí. Estes escravos vieram do famoso Mercado do Valongo, de onde se originaram quase 90% dos negros introduzidos no Rio Grande.
A fundação de Porto Alegre estava inserida na expansão dos domínios portugueses ao Sul do Brasil, visando participar do comércio no Rio Prata. No século XVIII, a foz do Rio da Prata era um espaço estratégico a ser conquistado, pois por ela escoavam parte da prata e do ouro das minas mais ricas da América Espanhola. Ao mesmo tempo, a exploração do ouro nas Minas Gerais, no Brasil, criou a demanda de novos produtos, tais como animais de carga, couro para confeccionar diversos utensílios e carne (charque) para alimentação da escravaria. A descoberta pelos tropeiros paulistas e lagunenses do gado vacum e muar que se reproduzia livremente nos campos de Viamão, em conseqüência da dissolução das estâncias missioneiras do Tape, no século XVII, foi um fator decisivo para a colonização da planície costeira e das pastagens naturais do interior.
A primeira fase da conquista do território correspondeu ao apresamento deste gado e a construção de currais. Em 1740, era concedida a primeira carta de sesmaria nos Campos de Viamão. Os sesmeiros ou estancieiros que se instalaram próximos ao Guaíba – no lugar conhecido como Porto de Viamão – utilizaram o rio como meio de comunicação com o Rio Grande e o Rio Pardo: Vilas militares e postos avançados da conquista do território.
Segundo Achylles Porto Alegre, o povoamento da cidade iniciou pelos terrenos que correspondem às atuais ruas Waschington Luis, Andradas, General Salustiano, Vasco Alves, Duque de Caxias, a antiga Beira do Guaíba até o Beco do Bragança (atual Marechal Floriano) e o Caminho Novo (atual Voluntários da Pátria).
Em 1778, são construídas as fortificações que tiveram um importante significado na organização do espaço urbano. O abastecimento de água era feito diretamente do Guaíba, inexistiam ruas calçadas, esgoto, limpeza pública ou iluminação. As primeiras ruas a receberem calçamento, chafarizes para abastecimento de água, limpeza, policiamento e iluminação de candeeiros a óleo de peixe foram a Rua da Graça e Rua da Praia (atual Andradas), Rua da Ponte e Rua do Cotovelo (atual Riachuelo), Rua da Igreja e Rua do Hospital (atual Duque de Caxias) em 1779.
Os becos tinham percurso acidentado, estreito e curto, não tinham a mesma estrutura das ruas principais, onde se localizavam os sobrados de pedra e cal. Ao contrário, os becos caracterizavam-se pelos casebres modestos de taipa e palha onde morava a população pobre composta de mascates, taverneiros, artesãos, marinheiros, carregadores, prostitutas e negros libertos.
Os negros, mesmo, em cativeiro conseguiam praticar seus rituais de obrigações aos Orixás, os libertos citados anteriormente se sobressaiam, nesta época, no resguardo de sua religiosidade mesmo em posição inferior na sociedade.
O povoado cresceu e seu novo status político exigiu construções mais duradouras. Trouxeram-se telhas e tijolos de laguna e importaram-se vidros; as primeiras olarias surgiram apenas no século XIX.
Em fins do séc. XVIII e inicio do séc. XIX, os “largos” eram por excelência, espaços de reunião e de atualização das sociabilidades publicas. Existiam os largos da Quitanda, dos Ferreiros, do Pelourinho e do Arsenal. As socialidades públicas, neste período, estavam ligadas as comemorações das festas religiosas. As festas do Divino, da Páscoa, da Quaresma e, principalmente, a dos Navegantes pelo caráter portuário de Porto Alegre. Nelas reunia-se toda a população, ricos e pobres, senhores e escravos. Tal reunião era característica da tradição católica portuguesa e açoriana, mas já aparecia mesclada com traços da cultura afro-brasileira dos negros acompanhando seus senhores.
Era no Largo da Quitanda, atual Praça da Alfândega, que se praticava o comércio, principalmente de amendoim, lenha, hortifrutigranjeiros, carnes e ovos. Foi neste ponto da margem do Guaíba que surgiu, em 1804, o primeiro trapiche para embarque e desembarque de mercadorias e pessoas. Em torno deste cais se reuniram os comerciantes e as quitandeiras com seus tabuleiros, na maior parte composta de negros, como assinalaria o viajante francês Saint-Hilaire, em 1820.
De acordo com as informações de pessoas antigas no meio do batuque, nesta época as “negras minas” que vendiam neste mercado, já tinham o assentamento de um Bará, para dar proteção e movimento nas quitandas. Esta tradição de assentar o Bará nos mercados vem da África, principalmente da região dos yorubás.
No ano de 1820, com o início da construção da Alfândega, as quitandeiras começaram a ser removidas para o Largo do Paraíso (atual praça XV de Novembro). Entretanto, como as resistências foram muitas, a Câmara permitiu que elas continuassem a ocupar o ângulo oeste do Largo da Quitanda, bem como os Largos do Paraíso e do pelourinho.
O Largo do Pelourinho, em frente à Igreja das Dores (1807), era o lugar de ritualização da ordem na sociedade colonial. Neste largo foi construído o pelourinho onde se açoitavam os escravos. Existiam outros na vila, mas sua localização tornou-se difícil de definir. Ao que tudo indica, o largo serviu ao comércio miúdo com a saída das quitandeiras do Largo da Quitanda.
Em 1814, Porto Alegre possuía seis mil habitantes e a Província 70 mil. Em 1822, a capital é elevada a categoria de cidade.
Em 1829, surgia o primeiro Código de Posturas Policias para disciplinar a ocupação do espaço urbano; designavam-se lugares de coleta d’água, lavagem da roupa dos hospitais, despejos dos esgotos, lixo, etc. Em 1837, uma série de novas disposições procurava dar conta da situação de cerco da cidade. Vários artigos tratavam da questão do controle da mão-de-obra escrava que alcançava mais de 1/3 da população de Porto Alegre.
Em 1842, o Governador da Província Saturnino de Souza sente a necessidade de construir um mercado para organizar o comércio na capital, até então feito em barracas desordenadamente espalhadas entre o Largo da Alfândega e do Paraíso. O lugar escolhido foi o Largo do Paraíso, onde atualmente se encontra o Chalé da Praça XV. Construí-se também uma doca próxima (no lugar da atual Praça Parobé) com espaço para estacionamento de carretas e carroças, no sentido de facilitar o abastecimento do mercado.
O antigo Largo do Paraíso passa por um significativo processo de transformação. O primeiro mercado tornara-se pequeno para as exigências da cidade. Em 1865, o Conselho Municipal decide pela construção de outro, no alinhamento do Caminho Novo (o primeiro andar do atual Mercado Público). O novo mercado, inaugurado em 1869 tornou-se a maior obra arquitetônica da cidade, com 72 bancas internas e 80 externas. É neste Mercado que o famoso Príncipe Custódio “assentou” um Bará. A Mãe Jurema de Xangô, uma das mais antigas do estado, nos conta que bem antes de se falar no Príncipe Custódio, o pai de santo dela, Paulino de Oxalá, já mandava os filhos de santo, em saída de obrigações, levarem moedas no Bará que tinha assentado numa banca do Mercado Público. O mesmo comentário foi feito de Mãe Antonia do Bará, que faleceu aos 96 anos de idade no ano de 1998.
Outro antigo Pai de Santo chamado Silvio Brito (Bino de Ogum) nos informa que sua bisavó Maria Pinheiro da Silva, filha do Orixá Ogum, Yalorixá da Nação Ijexá, também fazia comentários a respeito do Bará que as “negras minas” tinham assentado, ainda nas bancas improvisadas, onde vendiam suas mercadorias.
Os africanos chegaram às terras gaúchas com os primeiros tropeiros. Mais tarde, chegaram aos milhares para trabalhar nas charqueadas, nas fazendas, nas residências. Seus descendentes juntamente com os descendentes de outros povos, aqui se miscigenaram, formando os mestiços, dando origem a população de nosso estado.
A Sociedade Libertadora, fundada em Porto Alegre no dia 29 de agosto de 1876, empenhou-se na libertação das crianças nascidas de mães escravas. Muitos jornais deixaram de anunciar a fuga de escravos e passaram a defender a sua libertação. Em 1833, foi criado o Centro Abolicionista.
Entre 12 e 18 de agosto de 1884, promoveu-se a Jornada Abolicionista: pessoas dedicadas à causa batiam de porta em porta pedindo a alforria dos escravos. No dia 7 de setembro de 1884, a Câmara Municipal declarou que em Porto Alegre não havia mais escravos.
Inicia-se uma nova luta pela sobrevivência deste povo sofrido. Muitos tiveram que comprar sua liberdade, trabalhando de graça para o patrão de um a cinco anos.
Os negros se aglomeraram por diversos locais da cidade. O principal foi o Campo do Bom Fim, que mais tarde passou a se chamar Campo da Redenção. Sem comida, roupa e remédio, que antes eram atribuições de seus donos iniciando um processo de marginalização. Os senhores deram baixa na coletoria, não pagaram mais impostos sobre os negros, mas continuavam a usá-los como escravos.
Surge a Colônia Africana, grande concentração de população negra e desvalida, que compreendia os bairros do Mont’Serrat, Rio Branco e parte do Bom Fim. O bairro Mont’Serrat ficou conhecido como “Bacia”, devido ao número expressivo de casas de religião, onde se praticavam os cultos de origem africana.
Como aconteceu com a maioria das populações de baixa renda, pouco a pouco estes primeiros habitantes da região foram afastados para bairros distantes, em função da valorização dos terrenos que eram mais próximos da área central.
Havia outros pontos da cidade, como o Areal da Baronesa e a Ilhota, que eram fortes núcleos de negros, ali se constituíram, pouco depois da escravatura. O bairro hoje é conhecido como Cidade Baixa onde compreende as áreas antes denominadas de: Arraial da Baronesa, Emboscadas, Areal da Baronesa. No século XIX era denominado Arraial da Baronesa, por alusão a uma grande extensão territorial de propriedade da dona Maria Emília da Silva Pereira, Baronesa do Gravataí. Faziam parte da área, também, propriedades rurais, que usavam mão de obra escrava. Em fuga os escravos se escondiam nos matos que faziam parte do arraial, sendo “batizado” de território das “Emboscadas”.
Após um incêndio que destruiu a propriedade, em 1879, a Baronesa loteou e vendeu suas terras. O território passa ser habitado principalmente por negros. Tendo em vista a quantidade de areia na região, o local passa se chamar “Areal da Baronesa”.
A imprensa falava mal do arrabalde, contando histórias de desordens que ali ocorreram. No território tinha jogos de maneira geral, cancha de osso, além da prostituição, e falava-se muito sobre valentões invencíveis que enfrentavam os “ratos brancos” da Polícia Municipal.
O cronista Aquiles de Porto Alegre, que conheceu a zona, ainda antes de ser loteada, informa que era um “matagal cerradíssimo onde os negros fugidos iam esconder-se de seus cruéis e desumanos senhores”. O escravo que se revoltava contra tirania de seu dono procurava aquele lugar para esconderijo, por que a mataria era espessa, e eles encontravam ali para alimentar-se, o araçá, a cereja, a pitanga, o maracujá, o joá, o ananás e tantas outras frutas silvestres…” ainda conforme Aquiles, a população porto-alegrense também chamava esse arrabalde de “Banda Oriental”, pelas frequentes desordens que ali se davam, “principalmente no Beco da Preta, que era um dos seus tantos corredores escuros”.
O Areal da Baronesa ficou muito famoso por ser reduto de grandes carnavalescos da cidade. Neste local o negro fazia os melhores carnavais da cidade. Não diferente da Colônia Africana, a baronesa foi vencida pela especulação imobiliária na década de 60, e os negros foram empurrados para a periferia da cidade.
Junto com o Areal da Baronesa, outro local insalubre a “Ilhota” formava uma espécie de cinturão negro e pobre na cidade de Porto Alegre, nesta área ocorriam frequentes inundações. Destes dois territórios, saíram inúmeros músicos e compositores, solistas e jogadores de futebol que ficaram nacionalmente conhecidos, como Lupicínio Rodrigues e o jogador Tesourinha.
Mesmo ocupada por moradores muito pobres a “Ilhota” deixou sua marca na memória da cidade, sobretudo nas crônicas de carnaval, samba e batuque.
No início da década de 60 e intensificações nos anos 70 a população de baixa renda que residia nestas vilas próximas ao centro foram transferidas para a Restinga, hoje um dos maiores bairros da cidade de Porto Alegre.
Mesmo com todas as dificuldades, o negro conseguiu manter o culto aos Orixás. Hoje no estado do Rio Grande do Sul, existem mais de 70 mil casas que seguem as tradições de origem africana.
Uma das nações de origem africana mais cultuada no Rio Grande do Sul é o Ijexá, cujas raízes são inúmeras. Tenho procurado informações que nos mostrem um pouco da história dos indivíduos que contribuíram para a permanência de nossos rituais religiosos aqui no sul. Nesta caminhada conheci pessoas que engrandeceram este trabalho com suas preciosas informações, agradeço a cada um que me abriu a porta colaborando com as pesquisas, que tem o único propósito de informar como se deu a estrutura religiosa africanista na cidade de Porto Alegre. A capital gaúcha se destaca entre as cidades brasileiras pela pobreza em testemunhos concretos de suas origens. Ficaram, entretanto, alguns traços imateriais de um passado distante que tentamos resgatar neste trabalho.
Origem da Nação Ijexá
Ìjèsà
Ilexá é uma cidade histórica, situada no Estado de Osun (Oxum). Localizado no sudoeste da Nigéria. Cujo povo ficou conhecido como nação Ijexá; Localiza-se na interseção de Ilê Ifé, Oshogbo e Akure. A cidade é uma das mais tradicionais da história do povo yorubá, já chegou a ser a capital do reino de Oyó, nos tempos do império; e no século XIX com a queda de Oyó, Ilexá se tornou sujeito a Ibadan. Das cidades e aldeias desta região da Nigéria, Ilexá é a maior, com uma população com mais de cem mil habitantes nos dias de hoje; é um centro agrícola e comercial, cujos principais produtos são: o cacau, noz de cola, óleo de palma e inhame. Ilexá possui 18 escolas secundárias e também uma academia de educação do estado, e tem um grau de unidade cultural e lingüística que se distingue dos outros povos. A cidade tem rede de estradas que contribui para o sistema de esferas comerciais que ativa a distribuição de produtos dentro e fora da região.
As tradições de fundação de Ijexá, como um dos reinos importantes da região de ijeshaland surge de uma migração dinástica de Ilê Ifé, o centro sagrado da mitologia yorubá. A versão padrão de tradição entre os ijexás, diz que a origem deste povo vem de um jovem, filho de Oduduwa, chamado Obokun. O povo se autodenomina como Omo Obokun (crianças de Obokun).
A história conta que Obokun, era o filho mais novo de oduduwa. Ele se ofereceu para ir buscar água no mar para curar a cegueira do pai. Em seu retorno ele foi informado que seu pai estava morto, e ele pediu sua parte na herança. Foi lhe dito que todas as heranças, incluindo coroas, foram dadas à seus irmãos mais velhos. E para ele ficou apenas uma espada, Ida Ajasegun (espada da conquista) com a qual Obokun se tornou um grande guerreiro e inicio seu patrimônio em Ijexá.
Em outras histórias de Ijexá afirma-se que o local da cidade já estava ocupado por assentamentos dispersos por uma população indígena conhecida como Okesa, cujo líder é considerado como antepassado de Ogedengbe Obanla de Ijeshaland, um líder guerreiro que morreu em 1910. A cidade possui um memorial para este líder por que ele desempenhou um papel vital durante a guerra (kiriji) do século XIX, o que impediu Ijexá e outras cidades de serem conquistadas e dominadas por Ibadan e outras regiões poderosas.
Sem dúvida, a Nação Ijexá foi a que mais se destacou na cidade de Porto Alegre. Sou descendente da raiz de Pai Paulino de Oxalá Efan, Babalorixá, que teve todas suas obrigações feitas pelas mãos de duas negras, ex-escravas, oriundas da região de Ilexá na Nigéria. Uma recebeu o nome no Brasil de Margarida, era filha de Oxalá, e sua irmã chamava-se de Inácia. Em quanto viveram participaram de todas as obrigações na casa de Pai Paulino. Mãe Jurema de Xangô, é quem me passa as informações sobre quem fez a iniciação de Pai Paulino, e não lembra com certeza qual o Orixá de Mãe Inácia. Pai Paulino, oriundo de pelotas, morou na Avenida Berlim 418, em Porto Alegre, onde iniciou muitos filhos de santo que se tornaram sacerdotes e sacerdotisas da religião africana em Porto Alegre e outras localidades do Estado do Rio Grande do Sul. Foi um sacerdote muito rígido, não era assim tão fácil receber um axé de suas mãos, o filho de santo tinha que mostrar merecimento. Mesmo com vários anos de iniciação ele só liberava para trabalhar na religião depois de ter certeza de que aquela pessoa estava realmente hábil para executar os rituais. Os filhos de santo dele que tiveram maior destaque foram: Manoel Antonio Matias, conhecido como Manézinho de Xapanã, Idalino Moreira conhecido como Pai Idalino de Ogum, Pedro Fagundes, tamboreiro; Maria Antônia Ferreira de Assis, conhecida no meio religioso como Mãe Antônia de Bará; Jurema de Xangô; Julia de Xapanã; Ruquina de Oxalá; Joana de Xapanã; Barbosa de Ogum; Gasparina de Oxum, entre muitos outros.
Manoel Antônio Matias – Manézinho de Xapanã, nascido em 17 de junho de 1896, numa localidade denominada Caconde,interior do RS, casado com Dona Eugênia de Oxalá. Teve sua iniciação feita por Pai Paulino de Oxalá Efan, da Nação Ijexá, morou no Mont’Serrat, na rua Reingantes, e segundo dona Terezinha de Xangô, neta de Jôba de Xapanã, ele também morou na Avenida Carlos Gomes, onde veio a falecer em 30 de março de 1948. Foi um dos maiores Babalorixás do Rio Grande do Sul. Seu Orixá trouxe muitas rezas que faz parte dos rituais da nação Ijexá, e também usadas por outras. Assim como seu Babalorixá Paulino, não fazia aprontamento de filhos de santo que não tivessem merecimento. Manézinho deixou muitos filhos de santo que se destacaram dentro da religião, entre elas podemos citar: Mãe Olmira de Xangô, minha avó e madrinha; Mãe Antonieta do Bará e Mãe Ondina de Xapanã; Mãe Ester Ferreira, conhecida como Estela de Yemanjá, cunhada de Manézinho; Maria Valdomira do Nascimento, conhecida como Mãe Miróca de Xangô; Pai Ademar do Ogum; Mãe Maria do Bará Lodê, foi esposa de Idalino de Ogum; Mãe Diva de Yemanjá; Dorvalina de Xangô; Alziro de Oxum, irmão carnal de Mãe Ondina de Xapanã; Merenciana de Odé; Alice de Oxalá, filha carnal de Mãe Ondina de Xapanã; Mãe Rosalina de Bará; João de Oxalá, tamboreiro; Zéca Pinheiro de Xapanã; Mãe Julia de Oxum; Maria Joaquina de Xapanã, esta senhora entrou para casa de Pai Manezinho cega e foi curada, se tornou uma grande Yalorixá; João de Xangô; Mãe Julieta de Oxalá; Mãe Jovelina da Oyá; Pai Brandão do Ogum, esposo da Albertina surda da Oxum; Mãe Picuxinha do Bará; Pai Venceslau de Oxum; Pai Nelson da Yemanjá; Avelina de Xangô e seu esposo Nininho de Ogum; Adão de Bará e Maria de Xangô, irmãos consangüíneos de Pai Tuia de Bará; Mãe China de Oxalá; Pai Albino de Xangô; Mãe Nóca de Oxum, mãe carnal de Pai Tônho de Oxalá; Lavinho de Ogum e Noracema de Xangô, filhos carnais de Mãe Jôba de Xapanã; Carmelita de Xapanã; Luiza do Ogum; Amélia de Xapanã, mãe do tamboreiro “Tesoura de Ogum” entre outros.
Maria Antônia Ferreira de Assis – Mãe Antônia do Bará, nasceu em São Sebastião do Caí, veio para Porto Alegre com 2 anos de casada. Ficou muito doente e foi internada no hospital da Santa Casa. Estava esperando para ser operada, mas, não se sabe de onde, surgiu no quarto um senhor negro. Vendo o estado em que ela se encontrava, alertou o marido dizendo que tirasse Antônia imediatamente do hospital e a levasse na casa de um “curandeiro” que morava no Mont’Serrat. Ele deu o endereço da casa de Pai Manézinho de Xapanã. Seguindo o conselho daquele senhor o casal foi à procura do babalorixá, que ao consultar os orixás conclui que Antônia teria que ser iniciada na religião. Manézinho faz os primeiros trabalhos e, já quase curada encaminha à casa de Pai Paulino de Oxalá, onde foram feitas as obrigações de assentamento de Orixás para Mãe Antônia de Bará. Nesta época Pai Manoel tinha em casa somente o Orixá Bará e o axé de Búzios, como era costume na época as obrigações vinham aos poucos, se montava uma estrutura bem sólida para depois começar ter filhos de santo. Após fazer as obrigações para Mãe Antônia, Pai Paulino à leva, novamente, à casa de Manézinho para ajudá-lo e aprender com ele todos os fundamentos da religião, nesta época as obrigações de Pai Manoel já estavam completas em seu Ilê. E foi no terreiro de Manézinho de Xapanã que a famosa Mãe Antônia de Bará aprendeu muito sobre os fundamentos da religião africana.
Idalino Moreira – Pai Idalino de Ogum, um dos mais afamados Babalorixás do Rio Grande do Sul, era filho de Dona Francelina de Xangô, que faleceu aos 125 anos de idade. Idalino Perdeu seu pai muito cedo, e de acordo com informações de sua enteada Cenira de Xapanã, ficou aos cuidados do Príncipe Custódio. Pai Idalino começa sua trajetória religiosa sendo filho de santo de Custódio Joaquim de Almeida, da Nação Jêje. Com a morte de Custódio, ainda não tinha todos os axés, então vai ser filho de santo de Pai Paulino de Oxalá Efan, da Nação Ijexá.
Dona Francelina, mãe de Idalino – Pai Idalino teve três casamentos e vários filhos, um deles foi o famoso Babalorixá Turéba de Ogum. Seu ultimo relacionamento foi com dona Maria do Bará Lodê, filha de santo de Pai Manézinho de Xapanã. Residiu muitos anos no Mont’Serrat, e depois mudou-se para vila Bom Jesus onde permaneceu até sua morte. Seguindo as Nações Jêje e Ijexá, teve grande destaque no Batuque do Rio Grande do Sul. Muitos Babalorixás e Yalorixás o procuravam em busca de sua sabedoria. Foi contemporâneo e muito amigo do Pai Alfredo Sarará de Xangô, pai carnal de Pai Pedro da Yemanjá; Pai Idalino de Ogum trabalhava na construção civil como servente de pedreiro, levou uma vida humilde, com grande dedicação ao culto dos Orixás, falava perfeitamente o dialeto africano, não deixava fotografar nem filmar o quarto de santo. Era tamboreiro, tocava para os Orixás e para os Eguns. Pai Idalino nasceu em 09 de novembro de 1872 e faleceu em 1987 com 115 anos de idade.
Jurema de Xangô – Mãe Jurema de Xangô, nasceu no dia 5 de outubro de 1923, filha de Maria da Glória do Ogum, seu pai era espírita e faleceu quando ela tinha 9 anos. Fez o assentamento de seus Orixás em 1933, com 10 anos de idade pelas mãos do saudoso Paulino de Oxalá Efan, da nação Ijexá.
Mãe Jurema trabalhou 20 anos com Mãe Antonia de Bará. Morou ao lado da casa de Pai Idalino do Ogum na vila Bom Jesus, com quem trabalhava e ajudava na religião. Com a morte de pai Paulino foi ser filha de santo de Pai Joãozinho do Bará da Nação Jêje, e passou a cultuar os rituais das duas nações predominantes no Estado, Jêje e Ijexá. Mãe Jurema conta que era pequena, e sua madrinha, dona Dorcinda de Obá, uma negra mina descendente de escravos, a levava na casa de Pai Antoninho de Oxum, da Nação Oyó,onde acompanhava as festas para o Xangô do Povo, que duravam 32 dias. Conheceu muitas pessoas famosas dentro do Batuque como a Mãe Tola de Yemanjá, mãe carnal do Pai Pedro da Yemanjá, seu esposo Alfredo Sarará de Xangô, entre muitos outros. Mãe Jurema conta que o batuque na casa de Pai Paulino começava às 2 horas da tarde, e às 8 da noite já estava concluída todas as obrigações.
Alfredo Elpídio de Lima – Alfredo Sarará, filho de Xangô, Babalorixá de grande importância para o Batuque do Rio Grande do Sul. Era filho de santo de Janjão de Xangô da Nação Ijexá. De acordo com Mãe Jurema de Xangô, Janjão era um negro muito feiticeiro, ela o conheceu numa festa de batuque na casa de Mãe Etelvina de Bará. Mãe Etelvina foi outra grande Yalorixá da antiguidade dentro da nação Ijexá. Pai Alfredo de Xangô morava na Leopoldo Bier, em Porto Alegre, era casado com a Yalorixá da Nação Jêje Glória Isolina Barbosa, mais conhecida como Ya Tolá de Yemanjá e teve com ela os filhos: Pedro de Yemanjá, Miguelina de Xangô, tinha o apelido de “quito”, Alfredinho, tamboreiro, Miguel de Xangô, tinha o apelido de “Cara Furada”, e a mais nova era Ironita de Oxum.
José Pedro Barbosa de Lima – Nasci na cidade de Olinda, lá em Pernambuco, por volta de 1912. Cheguei ao Rio Grande do Sul com três anos de idade e, aos dez, como muitos outros negros, já trabalhava aqui ao lado, no porto, ajudando a descarregar a carne dos navios que atracavam, ganhando, como pagamento, miúdos de boi e outras partes menos nobres. Depois de alguns anos, me tornei estivador profissional.
Nesta época, o trabalho na estiva era controlado pelo sindicato da categoria. Só os estivadores sindicalizados podiam carregar e descarregar as embarcações. Isso nos garantia uma situação razoavelmente confortável. A gente trabalhava dois, três dias por semana, mas valia a pena, já que o sujeito ganhava quase que por quinze ou um mês até. Então tinha este fator que era muito bacana: o sujeito podia não tá trabalhando, mas chegava ali e arrumava serviço.
Eu, e vários outros trabalhadores do porto íamos diariamente ao Mercado para descansar e nos divertir. Algumas vezes, eu passava pelo Restaurante Treviso, onde se reunião para fazer noitadas grandes artistas vindos do Rio, como Francisco Alves e Carlos Galhardo; e pelo Bar Naval, ponto de encontro dos marítimos e estivadores. Mas eu não era um homem da noite, um boêmio, por causa da minha religião.
Em 25 de dezembro de 1925, me aprontei na religião e me tornei Pedro de Yemanjá. Desde então, eu fiquei ainda mais ligado ao Mercado. Afinal, ali no meio, ali ó, onde havia uma banca redonda, ali existe um Bará. O Bará é o dono dos caminhos e das encruzilhadas. Ele representa o trabalho, a fartura, o início de todas as coisas.
Fontes: Este texto é parte da entrevista que o Babalorixá Pedro da Yemanjá deu à Laura Dutra em 01/09/1992 (Acervo Memorial do Mercado).
Pai Pedro de Yemanjá foi iniciado na religião por sua avó consanguínea, Yalorixá Isolina de Xangô Ainã da Nação Jêje. Este saudoso sacerdote conhecia os fundamentos de todas as nações de batuque e também de eguns.
Ormira dos Santos – Mãe Olmira de Xangô foi iniciada na religião africana pelo saudoso Babalorixá Manézinho de Xapanã, da Nação Ijexá. Lavava roupa para fora e se dedicava ao culto dos Orixás com muito zelo. Era uma pessoa humilde, sabia muito bem os fundamentos da religião. iniciou muitos filhos de santo que se tornaram Babalorixás e Yalorixás bem destacados dentro do Batuque. Com a morte de pai Manézinho, muitos de seus filhos de santo passaram para o terreiro de Mãe Olmira, que ficava na rua Ariovaldo Pinheiro, 157, onde viveu até sua morte em 1987.
Artur Manoel dos Santos – Pai Tuia de Bará, nasceu em janeiro de 1942, no berço da religião africana. Começou sua vida religiosa aos dezoito anos, quando fez o assentamento de seus Orixás. Foi criado no meio de grandes sacerdotes do ritual. É afiliado de batismo de Manézinho de Xapanã e sua esposa Eugenia de Oxalá. Sua iniciação foi feita por Mãe Olmira de Xangô Aganjú, da Nação Ijexá, a qual lhe passou os verdadeiros fundamentos do culto aos Orixás e, também, dos Eguns. Seu pai carnal era o Babalorixá Nininho de Ogum, da casa de Pai Manézinho.
Pai Tuia de Bará comenta que antigamente o pessoal do “santo” era mais respeitado, pois se faziam respeitar. Se tivesse um trabalho despachado em um determinado lugar da natureza, as pessoas davam voltas longas, para se distanciar, em sinal de respeito, hoje em dia o pessoal vai em cima “bisbilhotar” para ver o que tem no axé. Diz que um sacerdote de orixá só iniciava um filho quando tinha certeza que este levaria adiante os ensinamentos, davam-se axés de Búzios e Facas, para quem tinha Dom. Pai Tuia de Bará morou 11 anos na casa de sua mãe de santo, só depois deste período é que abriu seu terreiro na Rua São Leopoldo em porto Alegre. Ele comenta que os atos religiosos eram bem diferentes, e que há poucos terreiros que seguem a risca o verdadeiro ritual. Sua trajetória dentro da religião faz com que inúmeros Babalorixás e Yalorixás o procurem quando estão com dúvidas. Este é um fato normal dentro do culto, quando há humildade.
Mãe Joaquina Antônio Jacinto, conhecida como vovó Juquina, morava na rua Avaí, bairro cidade Baixa, Porto Alegre, onde se localiza a sociedade religiosa beneficente Africana 1º de Janeiro. Nação Ijexá cultuava com o orixá máximo Obokun (rei da Nação Ijexá). A responsabilidade por Obokun lhe foi entregue por Mãe Esperança, quando essa ficou viúva. As festas para Obokun aconteciam no Natal e encerravam em 31 de dezembro.
Pai Hugo de Yemanjá – Hugo Antônio da Silva – Pai Hugo da Yemanjá, nascido em 29 de abril de 1904, casado com a Yalorixá Jovelina da Rosa Silva, conhecida no meio religioso como Jovelina de Xangô Aganjú. Dona Jovelina não podia ter filhos. O senhor Hugo teve uma segunda mulher chamada Lurdes, com quem teve 21 filhos; alguns faleceram ainda criança. Uma de suas filhas, Araci Silva Paixão é quem nos dá estas informações. Dona Araci era casada com o Babalorixá Airton Paixão de Xangô, filho de santo de Hugo de Yemanjá e diz que eles sempre comentavam que praticam as nações Ijexá com Jêje.
Dona Cândida era o nome da mãe consanguínea de Pai Hugo, e contava para os netos que seu filho Hugo com a idade de 12 anos, passou a ter um tipo de desmaio, perdia totalmente à consciência. Até que um dia, ao voltar a si, ele contou que ouvia sua mãe chamá-lo, mas não conseguia responder, nem voltar do lugar onde estava, e ele descreveu o local como se estivesse em uma aldeia da África.
Pai Hugo da Yemanjá foi iniciado na religião pela Yalorixá Celestrina de Oxum Docô da nação Ijexá, com 16 anos de idade e se tornou um importante Babalorixá no Estado do Rio Grande do Sul, deixou muitos filhos de Santo que também se destacaram no meio religioso, entre eles podemos citar: Airton Paixão de Xangô; Pai Marcos de Oxum; Pai Lélo de Xangô; Virginia de Odé; Bela de Oxalá; Rute de Yemanjá; Mãe Jovita de Xangô, Pedro China de Yemanjá; Maria da Glória Francisca de Souza, conhecida no meio religioso como Mãe Glorinha de Ossãe; Nicanor do Ossãe; Mãe Chininha de Yemanjá, que morou na rua Rodolfo Gomes; Edília de Bará; Mãe Maria de Xangô da rua Barão do Triunfo; Virginia de Oxum; Pai Dirceu de Xangô, pai carnal de Pai Bino de Ogum; entre outros.
Pai Hugo faleceu aos 53 anos de idade no ano de 1957.
Mãe Maria do Ogum Onira – Maria Pinheiro da Silva, conhecida como mãe Maria do Ogum, nascida em 06 de janeiro de 1888, foi outra importante Yalorixá da nação Ijexá. Filha de santo do saudoso Alfredo Sarará, com quem aprendeu os fundamentos da religião africana.
Era contemporânea de Idalino do Ogum, com quem mantinha relações de irmandade, pois foi das mãos de seu Pai de Santo, Alfredo Sarará, que Idalino de Ogum recebeu o Axé de Obé para sacrificar bois. Teve como filhas carnais a Yalorixá Edite de Oxum e Mãe Glorinha de Ossãe, que também seguiram a Nação Ijexá.
Mãe Maria do Ogum morou na Rua Taquari, próxima à casa de Cudjobá de Xangô, pai de santo de dona Celestrina de Oxum. E por último mudou-se para Rua Mathias José Bins, no bairro Chácara das Pedras.
Suas principais obrigações religiosas, inclusive os sacrifícios de bois para os Orixás, eram feitas num local denominado Casa Grande, ou Castelo, nas imediações onde é hoje o Palácio da Polícia. Neste local aconteciam os mais diversos rituais de religião aos comandos de Mãe Maria do Ogum e seus contemporâneos. Foi ela quem fez a iniciação de Turéba de Ogum aos 16 anos de idade.
Sua família, quase que na totalidade, são seguidores da religião afro-brasileira. Hoje seu representante é o Babalorixá Bino de Ogum, que mantém firme as tradições herdadas de seus antepassados, com o terreiro localizado na Rua Araponga, no bairro Chácara das Pedras em Porto Alegre.
Mãe Glorinha do Ossãe – Yalorixá Maria da Glória Francisca de Souza, conhecida no meio religioso como Mãe Glorinha do Ossãe. Teve sua iniciação no dia 17 de junho de 1925, nas mãos do Babalorixá Manoelzinho do Cavanhaque da Nação Ijexá, na falta deste passou a ser filha de Pai Hugo da Yemanjá, também do Ijexá. Mãe Glorinha do Ossãe nasceu no ano de 1909 no berço da religião africana, vem de uma descendência espiritual muito importante no culto aos Orixás dentro do Rio Grande do Sul. Era filha de ventre da Yalorixá Maria Pinheiro da Silva, Maria do Ogum Onira citada anteriormente.
Mãe Glorinha do Ossãe residia na Vicente da Fontoura, nos anos quarenta, e no inicio dos anos cinquenta passou a morar na Rua Araponga, no bairro Chácara das Pedras, e a partir de 1962 foi morar na Av. Bento Gonçalves, 3497 onde manteve seu terreiro por muitos anos. Ela contava aos netos, que na adolescência, morava com a família na Travessa do Carmo, e de vez em quando, via o Príncipe Custódio passar montado em seu cavalo.
Mãe Edite de Oxum – Imponente Yalorixá da nação Ijexá, iniciada pelo Babalorixá Alfredo Sarará. Após a morte de Pai Alfredo, passou suas obrigações às mãos de sua genitora, Mãe Maria Pinheiro da Silva.
Mãe Edite tinha uma vidência extraordinária. Além da Nação Ijexá, era também dirigente espiritual do Centro de Umbanda Rei Agostinho, na Rua Fernando Cortes, em Porto Alegre.
Babalorixá Silvio Brito – Pai Bino de Ogum – O Babalorixá Bino de Ogum representa hoje uma importante linhagem religiosa dentro do Estado do Rio Grande do Sul. Bisneto da Yalorixá Maria do Ogum Onira, neto da Yalorixá Glorinha do Ossãe, sobrinho de Mãe Edite de Oxum, e filho carnal de Pai Dirceu de Xangô Ogodô.
Traz em seu destino a missão de dar segmento às raízes africanistas de sua família carnal e religiosa. Foi iniciado e aprontado na religião por sua avó Glorinha do Ossãe, filha de Santo do Babalorixá Hugo da Yemanjá da Nação Ijexá.
Pai Bino de Ogum conviveu no meio de importantes Babalorixás e Yalorixás da antiguidade. Era frequentador assíduo da casa de Pai Turéba de Ogum, o qual foi iniciado na religião por sua bisavó Maria do Ogum Onira, com quem aprendeu muitos fundamentos da religião hoje praticados em seu terreiro na Rua Araponga em Porto Alegre.
Maria Barbosa Pontes – Yalorixá Preta de Oxalá, nasceu no berço da religião Africana. Com um ano de idade, Pai Paulino de Oxalá Efan fez o assentamento de seu Orixá, por motivos de saúde.
Mãe Pretinha como era carinhosamente chamada, dedicou-se desde nova aos cultos da religião e teve inúmeros filhos de santo que se tornaram importantes Babalorixás e yalorixás dentro e fora do Estado do Rio Grande do Sul.
Mãe Ondina de Xapanã – Mãe Ondina de Xapanã foi iniciada e aprontada na religião afro-brasileira por Manoel Antonio da Silva, Manézinho de Xapanã, da Nação Ijexá. Era mãe consanguínea de Mãe Táia de Xapanã que a substituiu na função de Yalorixá. Morou durante muitos anos no bairro Passo das Pedras, onde se dedicou à religião. Aprontou inúmeros filhos de santo, entre elas a famosa Darcila de Oyá, mãe de santo do saudoso Jaime da Yansã. Mãe Ondina ficou famosa pela rigidez nos dias de obrigação. Dentro de seu Ilê a religião era levada a sério, não podia ter deslizes, seu Orixá era enérgico assim como o Xapanã de pai Manézinho. Era temida por seus adversários pelo poder de seus feitiços.
Yalorixá Ester Ferreira – Mãe Estela de Yemanjá. Mãe Estela de Yemanjá foi iniciada na religião pelo Babalorixá Manézinho de Xapanã da Nação Ijexá. Morou muitos na Rua Das Camélias na Vila Bom Jesus, em Porto Alegre, onde dedicou-se a cultuar a religião afro-brasileira. Era cunhada de pai Manézinho, e com ele aprendeu a lida com os orixás e Eguns. Teve muitos filhos de santo que se destacaram dentro do culto, entre eles podemos lembrar-nos da saudosa mãe Maria da Oyá; Pai Marquinhos da Oxum; mãe Ovidia de Oxum; Pai Miguel de Xangô, Pai Otaviano de Xangô entre outros. Passaram a seus cuidados após a morte de Manézinho: Mãe Miróca de Xangô, Pai Ademar de Ogum, Mãe Diva de Yemanjá, Delurdes de Oxum; Zilda de Oxum, entre outros. Sua raiz continua firme nas mãos da Yalorixá Santinha de Ogum entre outros descendentes.
Pai Leopoldo Da Yança – Conheci dona Moza de Ogum, esposa de Pai Leopoldo, que me passou informações sobre a trajetória dele dentro do batuque. Informações que nos trouxeram dúvidas após conversar com nosso amigo Pai Jorge Verardi de Xangô, presidente da Afrobras e filho de santo de Pai Leopoldo da Yança.
Como desejamos informar o mais próximo possível da verdade, novos fatos nos foram passados por antigos filhos deste conceituado Babalorixá. De acordo com as informações recolhidas a trajetória de Pai Leopoldo dentro do africanismo começa sendo iniciado por Vó Rosinha de Yemanjá, uma Yalorixá da Colônia Africana, que assentou à ele os Orixás Bará, Yança, Xangô e Ossãe. Chegou na casa desta mãe de santo enfermo andando de muletas, consequência de ter pisado em um feitiço; mas ficou curado em seguida, no outro dia após os trabalhos já andava sem auxilio das muletas.
Após tempos foi morar no Areal da Baronesa, onde conheceu mãe Conceição de Yança, que era casada com Pai Juvenal de Xangô; este babalorixá assentou o restante das obrigações e deu axés de faca e búzios para Pai Leopoldo. Nesta casa conheceu mãe Maurília de Oxum, com quem viveu maritalmente. Nesta época Pai Leopoldo trabalhava na Hidráulica, hoje Dmae.
Nas imediações da Hidráulica conheceu a Sra. Malvina Silva Pires, mãe Moza de Ogum, que trabalhava de Baba ali por perto na residência dos Todeschini. Pai Leopoldo, então foge de Maurília e inicia sua convivência com Mãe Moza de Ogum, este casamento perdurou até o fim de sua vida.
Os rituais e Exu e Eguns lhe foram passados por Pai Pança de Xangô, um dos grandes tamboreiros da antiga Colônia africana.
Pai Leopoldo nasceu em 02 de dezembro de 1912, era babalorixá e tamboreiro, contribuiu muito na conservação dos rituais de Nação africana praticadas no Rio Grande do Sul, orgulho de seus filhos se santo.
Pai Lélo de Xangô – Manoel Irêno Cardoso, Pai Lélo de Xangô ao lado de sua esposa e da filha de santo Jussara de Yemanjá. Veio de santa Catarina com problemas sérios de saúde. Procurou todos os recursos possíveis em médicos, Igrejas e casas espíritas. Foi internado no Hospital São Pedro como louco. Sofreu por 11 anos, até que um conhecido o levou a casa de pai Hugo da Yemanjá.
O Babalorixá Hugo da Yemanjá, após consultar os Orixás através do jogo de Búzios orientou Lélo e sua esposa que o acompanhava, o que deveria ser feito e o valor que custaria. Dona fulana disse que eles não tinham “um tostão”. Pai Hugo, olhou para o cofre que estava aos pés da mãe Yemanjá, disse Omio minha mãe, me de licença, vou pegar o dinheiro para ajudar este filho necessitado, ele vai melhorar muito de vida e retornará com muito mais. E assim foram feitos os primeiros trabalhos, e pai Lélo foi melhorando. Foi iniciado na religião. A situação de ruim passou a ser favorável demais para Pai Lélo que já tinha sua casa e mais outras que alugava em Alvorada, onde levou pai Hugo para morar.
Com a morte de Pai Hugo, Lélo de Xangô, desorientado, ficou afastado da religião por 10 anos. Acabou sendo preso por uma calúnia. Antes de ser preso ele teve um sonho com Pai Hugo lhe dizendo entre outras coisas, que teria problemas sérios com a justiça, e o orientou a dar um carneiro para Xangô que seria liberto. Pai Lélo preso, ficou em desespero; lembrou-se do sonho e disse a si mesmo: Quando eu sair daqui, vou abrir minha casa e continuar a religião.
Pai Lélo ficou detido por 12 horas, e foi inocentado. Após este fato deu segmento a seu destino de ser Babalorixá.
Babalorixá Araci de Odé – Pai Araci de Odé foi um conceituado Babalorixá dentro da Nação Ijexá. Foi iniciado e aprontado na religião pelo saudoso Zeca Pinheiro de Xapanã, do terreiro de Pai Manézinho de Xapanã. Araci de Odé foi casado com Mãe Olmira de Xangô, com quem teve os filhos Laerte de Yemanjá e Zilá de Ogum.
Pai Araci morou muitos anos na cidade de Rio Pardo, onde iniciou muitos filhos de santo, que ainda dão segmento a suas tarefas dentro da religião africana.
Yalorixá Jôba de Xapanã – Angelina Nunes Silveira, nascida em 09 de outubro de 1887. Foi iniciada e aprontada na religião pelo saudoso Manézinho de Xapanã da Nação Ijexá. Mãe Jôba, seguiu os passos de seu Babalorixá e manteve seu terreiro por muitos anos na Av. Carlos Gomes, 759 em Porto Alegre.
Era benzedeira das mais procuradas. Fez muitas curas através de seu Orixá, que nem os médicos acreditavam que certas doenças, na época, poderiam ter solução.
Auxiliava nas obrigações, tanto na casa de seu pai Manézinho como de seu avô Paulino de Oxalá Efan. Mãe Jôba Faleceu em 1949.