Nação Cabinda

A nação Cabinda, originária de Angola, adotou o panteão dos Orixás Iorubas, embora estas divindades Bantus teriam como nome correto Inkince.

Os Inkinces são para os Bantus o mesmo que os Orixás para os Yorubás, e o mesmo que os Voduns são para os Jêjes. Não se trata da mesma divindade, cada Inkince, Orixá ou Vodum possui identidade própria e culturas totalmente distintas. A linguagem ritual originou-se predominantemente das línguas Kimbundo e Kikongo; são línguas muito parecidas e ainda utilizadas atualmente. O Kimbundo é o segundo idioma nacional em Angola. O Kikongo, provém do Congo, sendo também falado em Angola.

Aqui no Rio Grande do Sul a raiz forte da Cabinda foi o Sr. Valdemar Antonio dos Santos, filho do Orixá Xangô Kamucá Baruálofina; Dizem ter sido iniciado por um ex-escravo conhecido como “Nêgo Gululu”. Uma de suas descendentes foi a Sra. Madalena de Oxum, que se destacou grandiosamente dentro desta nação.

Outros que iniciaram pelas mãos de Valdemar de Xangô, e alguns, com sua morte passaram para as mãos de Mãe Madalena de Oxum: Pai Tati de Bará, Mãe Palmira de Oxum, Ramão de Ogum, Moacir de Xangô (tinha o apelido de Guri Bontito), Pai Mario de Ogum e Pai Nascimento de Sakpatá, oriundo de outra nação. Depois foram surgindo outros ícones da nação Cabinda, onde podemos citar Pai Romário de Oxalá, filho de santo de Mãe Madalena de Oxum; Mãe Olê de Xangô, mulher de Pai Tati de Bará; Pai Henrique de Oxum, enteado e filho de santo de Mãe Palmira de Oxum; Pai Adão de Bará de Exu Biomi; Pai Cleon de Oxalá; Antonio Carlos de Xangô, Alabê e Babalorixá, Mãe Marlene de Oxum, filha de santo de Pai Romário; Pai Paulo Tadeu de Xangô; Pai Genercy de Xangô; Hélio de Xangô, filho de santo de Pai Adão de Bará; Didi de Xangô; João Carlos de Oxalá, de Pelotas; Juarez de Bará; Pai Gabriel de Oxum, que foi um grande Babalorixá da Nação Cabinda, filho de santo de Romário de Oxalá; Lurdes do Ogum; Enio de Oxum, Luiz Vó da Oxum Docô e mãe Sonia de Oxum também da casa de Pai Romário; Ydy de Oxum, Pai Raul de Xangô herdeiro espiritual de Pai Henrique de Oxum, entre muitos outros que conservam, ainda, os fundamentos desta Nação tão importante nos rituais Africanos do Sul.

Os praticantes da Nação Cabinda também se valem dos rituais da Nação Ijexá, já que esta última é atualmente a modalidade ritual predominante aqui no Rio Grande do Sul; a diferença se dá basicamente no respeito à memória de seus ancestrais e a outros fatores como o início dos fundamentos da Nação Cabinda, que é justamente onde termina os das outras Nações: o cemitério.

O Orixá Xangô é considerado Rei desta nação e o culto aos Eguns é tão forte que na maioria dos terreiros de Cabinda, se encontra o assentamento de Balé (culto aos Eguns); Os filhos de Oxum, Yemanja e Oxalá, podem entrar e sair de cemitérios quando necessário for, sem nenhum prejuízo a sua feitura, já nas outras nações estes só entram no cemitério em extrema necessidade; Se estiver acontecendo uma festa num terreiro de Cabinda, e se o Orixá Xangô, tendo recebido oferendas de quatro pés, e vier a falecer algum membro da casa ou da família religiosa, não ficará a obrigação prejudicada, conforme acontece nos outros terreiros, nos quais teriam que interromper toda a obrigação.

Os Orixás cultuados na Nação Cabinda são os mesmos da Nação Ijexá.

Nação Jêje

Quando se fala em Nação Jêje, aqui no sul do Brasil, logo se lembra do Pai de um dos pais de santo mais famosos desta nação que foi o Pai Joãozinho de Bará (Exu Bý), morou no Mont Serrat, “exportou o batuque para além das fronteiras do Brasil, para países como Uruguai e Argentina. Era filho de Santo de Mãe Chininha de Xangô Aganju, iniciada pelo príncipe Custódio de Xapanã. O Jêje, assim como o Ijexá, teve várias raízes. Além do pessoal oriundo do terreiro de Custódio de Xapanã, sabe-se de outras vertentes puras desta nação oriunda do antigo Dahomé, hoje Benin. Podemos mencionar neste trabalho de resgate de nossas raízes religiosas a figura da Yalorixá Isolina de Xangô Ainã, das mais antigas na nação Jêje, avó materna de Pai Pedro de Iemanjá. Foi ela quem iniciou verdadeiramente o neto José Pedro Barbosa de Lima nos rituais de nação. 

Do terreiro de pai João podemos dizer que sua primeira filha de santo foi a sra. Vandina de Oxum e depois dela vieram outros importantes adeptos do ritual Jêje que se tornaram Babalorixás e Yalorixás onde podemos destacar alguns como a tia Nica do Bará, Alzira de Xangô, Dêde de Oxum, tio Cristóvao de Oxum e sua irmã Conceição, Valdomiro de Bará Lodê, muito respeitado e temido por todos, foi um dos maiores feiticeiros que se teve conhecimento no Rio Grande do Sul; dona Cótinha de Xangô, Valina de Oyá, irmã de Vandina de Oxum; Pai Pirica de Xangô, mãe Jurema de Xangô, tamboreira, teve sua iniciação pelas mãos de Paulino de Oxalá do Ijexá, e com a morte deste passou para o terreiro de pai João; Evinha de Xangô, também, uma das melhores tamboreiras do Sul; tia Licinha de Oyá, Aurora de Ogum, vó de pai Pirica de Xangô; tia Eva de Bará, João vó da Oxum Docô; Rosália de Odé, Landa do Bará, Tirôni de Xapanã; Reni de Iansã, filha de criação de pai João; Pequeno de Bará Lodê, esposo de Reni de Iansã; tia Tereza de Oxalá, filha consanguínea de mãe Alzira de Xangô; tia Jaci de Yemanjá; Valdir de Xangô; Mesquita de Xangô; Nadir de Ogum; Zé de Xangô, tio de Valdir de Xangô; pai Nelson de Xangô, pai de santo de Vinícios de Oxalá; Zé da Sáia de Xangô; Ziza de Odé; Zaida de Oxalá; Julieta de Odé; Patinha de Bará; Marta de Bará, famosa por sua vidência, também praticava o culto à Umbanda; as mulheres grávidas, faziam filas na porta de sua casa para saber o sexo do bebê; mãe Leda de Xangô, também famosa por seus feitos na Umbanda e vidente das melhores, tenho muitos agradecimentos à esta grande mãe de santo; Santa de Yemanjá; mãe Catarina de Ogum; pai Tião de Bará; Elaine de Oxum; Cleusa de Oyá; Elza de Oxalá, morava no Rio de Janeiro, para onde pai João viajava frequentemente. Os terreiros de Jêje praticam junto o ritual de Ijexá (nagô), cujas rezas e rituais são utilizadas em quase todos os terreiros de Batuque do Rio Grande do Sul e nos países vizinhos, onde o ritual africano do sul foi evidenciado como Uruguai e Argentina. A linguagem ritual de Jêje é o Fon e a dança é feita em par; as pessoas dançam de par, uma de frente para outra e alternam os lugares conforme muda o ritmo dos tambores. Os tambores são em tamanho pequeno. Um tamboreiro toca com dois Aquidavís e o outro faz a marcação apenas com um. O acompanhamento é feito com um instrumento denominado “Gãn”. Os terreiros mais tradicionais não usam o agê (xequerê para alguns) quando tocam Jêje puro. Joãozinho de Bará e sua irmã Licinha tocavam juntos, dizem que o ritual ficava muito mais belo quando os dois se juntavam para ritmar os tambores de Jêje.

Joãozinho do Bará doutrinava muito bem seus filhos de santo, ensinava os filhos a tirar as rezas dos Orixás e a tocar tambor; ele ensinava os filhos tocando na mesa com duas colheres e no outro dia já os colocava a tocar no tambor com os aquidavís, e com certeza logo aprendiam. Ele foi uma árvore que deu muitos frutos. Ainda há alguns terreiros que conseguem fazer o ritual Jêje, destas podemos citar a casa de pai Pirica, Jorginho de Bará, Pai Nelson de Xangô, Tião de Bará e seus respectivos descendentes, que também completam seus rituais com as rezas da nação Ijexá de linguagem Yorubá, mas são nestes terreiros que ainda se vê acontecer o ritual jêje-nagô à moda antiga. O que é chamado de nação Jêje é o ritual africano formado pelos povos fons vindo da região de Daomé, hoje Benin. Os povos Jêjes, chegados ao Brasil, em sua grande maioria se estabeleceram em São Luiz do Maranhão, onde ainda existe a Casa das Minas, Salvador e Cachoeira de São Félix (Bahia), Rio de Janeiro e para o Rio Grande do Sul sabe-se que vieram alguns descendentes do Daomé, inclusive um príncipe. O Daomé foi colônia de diversos países , e quando passou a ser propriedade da Grã-Bretanha, os Ingleses tiveram que entrar em acordo com os Reis e príncipes negros que governavam as terras. Um desses acordos resultou a vinda de um príncipe de São João Batista de Ajudá, que deixou sua terra na Costa da Mina; este escolheu o Brasil, inicialmente fixou-se em Rio Grande e, mais tarde foi para o interior de Bagé, onde ficou conhecido por manter viva a tradição religiosa Africana. De Bagé veio para Porto Alegre, adotou como nome Custódio Joaquim de Almeida, conhecido no meio religioso como Príncipe Cústódio. Seu ilê era frequentado por figuras importantes da época, inclusive foi ele quem fez o assentamento de um Bará no mercado público de Porto Alegre, onde todos adeptos do culto africano fazem reverencia cada vez que terminam uma obrigação aos seus Orixás.

Nação Oyó

A maioria dos rituais africanos praticados dentro do Rio Grande do Sul, vem do interior da África, principalmente das regiões da Nigéria onde encontramos as cidades de Ìlèsà, cujo povo é conhecido como da nação Ijexá e Oyó, a terra de Xangô, o Obá (Rei) de Oyó. No Brasil a vida útil do negro, escravo, era muito curta, pois passavam a maior parte de suas vidas trabalhando para seus servos; fora as epidemias e outras doenças, na época incuráveis, que acabaram matando centenas dos nossos antepassados. Devido a estas e outras dificuldades, nossos antigos sacerdotes acabaram levando para o túmulo muitos conhecimentos dos rituais sagrados africanos; Contudo ainda conseguimos guardar boa parte dos fundamentos das diversas nações vindas da África, berço histórico do Brasil; entre estes fundamentos temos a nação Oyó cujas tradições de seus rituais permanecem vivos aqui em Porto Alegre, e em algumas cidades do interior do estado. Para nós Rio-grandenses é um privilégio ter a presença desta nação, pois quase não se ouve falar de Oyó em outras partes do Brasil, pois raras foram as vezes em que os interessados na captura de escravos conseguiram atingir as localidades do interior da Nigéria, como as cidades de Oyó e Ilexá.

Uma das fontes da nação Oyó na cidade de Porto Alegre foi a Sra. Ermínia Manoela de Araújo, conhecida como mãe Donga de Oxum. Era filha de Oxum (Osun) com Ossãe (Osányìn); morava na colônia africana, nas imediações onde é hoje o Auditório Araújo Viana.

Dona Ermínia nasceu no dia cinco de maio de 1889, filha de uma grande Yalorixá da linhagem de Xangô; era uma negra de grande sabedoria, e seguia as tradições religiosas de acordo com o que herdou de seus genitores, que praticavam as culturas de Oyó e Ijexá juntos, já naquela época, até por que são nações de muita proximidade dentro do território nigeriano, inclusive a língua Yorubá é o idioma falado pelos dois povos, com apenas algumas diferenças no dialeto.

Nas aldeias africanas os assentamentos de Orixás eram feitos para servir uma comunidade inteira, até mesmo uma cidade, e toda população se dedicavam aquele Orixá cultuado na região; os assentamentos, os rituais, as obrigações ficavam de uma geração para outra; tem lugares que ainda hoje, conservam assentamentos de Orixás com quatrocentos anos ou mais, eu mesmo visitei um terreiro em Salvador que mantém um Xangô Ogodô, trazido da África, cujo assentamento foi feito a mais de duzentos anos. Foi esta tradição que deu origem ao Xangô Aganjú do Povo. As tradições deste ritual foram passados à mãe Donga, e não é apenas um okutá de Xangô, é sim um conjunto de Orixás (Irúnmòle), que foram preparados para servir a comunidade inteira daquela família religiosa de tradição Oyó da bacia de mãe Donga de Oxum, e ser passado pelas gerações vindouras. E assim aconteceu; os assentamentos após passar por vários terreiros de Oyó, hoje estão, nas mãos de uma descendente direta de mãe Donga, a Yalorixá Nélia de Ossãe, que humildemente tem a guarda destes assentamentos em seu terreiro. Antigamente era escolhido um Axogum (Asògún), ou seja, um homem que teria a função de fazer o sacrifício dos animais para este ritual; um deles foi o senhor Mário Lopes, que após um derrame passou o cargo ao Sr. Rolim de Oxalá, que morou na rua Lucas de Oliveira, e antes de falecer passou a responsabilidade para o sr. Jorge de Xapanã; após sua morte não se teve uma pessoa exclusivamente para fazer os sacrifícios para Xangô Aganjú do Povo, hoje a responsabilidade da matança é da pessoa que tem a guarda dos assentamentos em seu terreiro, e a data da festa é sempre o dia vinte e dois de julho, que antigamente movimentava todo o povo de santo de Porto Alegre e arredores.

Ermínia Manoela de Araújo teve quatro filhos: Maria Rosaura de Araújo Souza, ficou conhecida como mãe Rosália de Xangô, nasceu em 8 de abril de 1911 e faleceu em 05 de agosto de 1989; Luiza de Araújo Souza, conhecida como tia Luiza de Ogum, nasceu em 25 de novembro de 1915 e morreu em 19 de julho de 1994; Mário de Araújo Souza, conhecido como Mário Bocão, filho de Odé, não temos certeza das datas de seu nascimento e morte; e a outra filha era Lurdes de Araújo Souza, cujo Orixá era Xapanã, também não temos certeza das datas de seu nascimento e morte. Dona Ermínia (Donga de Oxum) contraiu a gripe espanhola e faleceu em 1918, deixando os quatro filhos pequenos, tia Rosália de Xangô com seis anos e sua irmã Luiza de Ogum com dois anos de idade, e os outros dois filhos também pequenos. Em Porto alegre, foi criado um cemitério especialmente para as vitimas da gripe espanhola, que matou em todo país cerca de 300 mil pessoas.

O único filho de santo que Dona Donga de Oxum deixou pronto com todos os assentamentos foi o Sr. Antoninho de Oxum, que herdou além das tradições religiosas, também todos os seu filhos de ventre e de axé (filhos de santo); as informações sobre a vida de mãe Donga me foram passadas pela Yalorixá Nélia de Ossãe, filha carnal de tia Luiza de Ogum.

Dona Donga tinha uma cunhada que também seguia as tradições da nação Oyó, chamada dona Leopoldina de Oxalá, que também passou ser filha de santo e auxiliar de Pai Antoninho, junto com uma outra senhora chamada carinhosamente de Velha, que também foi uma luz neste antigo terreiro. Antoninho de Oxum trabalhava fora e ainda arrumava tempo para se dedicar a inúmeros filhos de santo e consulentes que o procuravam; teve dois filhos carnais, e outros tantos de criação, entre elas dona “dona Maria Garçoneta” que morava nas imediações da Igreja Nsra. Do Trabalho, tive a felicidade participar de um batuque em seu ilê, na Vila Ipiranga.

Em tempos passados os Babalorixás e Yalorixás, além da prática religiosa, dedicavam-se à caridade, a maioria tinha muitos filhos de criação, inclusive se um indivíduo estivesse passando necessidades, era acolhido no terreiro até que tivesse condições de sobrevivência, aquele ia embora e já dava lugar a outro.

Hoje, em alguns casos, é difícil até mesmo a própria sobrevivência dos sacerdotes, já não da mais para seguir o exemplo de amparar os necessitados nos terreiros.

A maioria do pessoal que escreve sobre a religião africana no Rio Grande do Sul, cita o Príncipe Custódio como introdutor dos rituais de Batuque aqui no sul, não é bem assim, pois o negro se faz presente neste Estado muito antes da família de Osuanlele (Príncipe Custódio) ser retirada em 1897 de Benin (antigo Daomé), já no censo da população do Rio Grande do Sul, feita no ano de 1814, nos mostra uma população negra expressiva perfazendo um total de 36,7% de afro-brasileiros, contra um total de 45,6% de brancos no estado, outro dado relevante é que pesquisadores, sérios, situam o período inicial do Batuque nesta região entre os anos de 1833 e 1859, na mesma época em que o Candomblé ganhava espaço na Bahia. O lendário Príncipe Custódio só pisa em solo gaúcho no ano de 1899, na cidade de Rio Grande, e já encontra aqui rituais religiosos de origem africana, popularmente denominada de Batuque. Ele contribuiu sim com nossa religião, com seus contatos políticos, pois Custódio, vinha de uma família nobre, sua saída da África foi política; ele sabia como se destacar e fazia bom uso de sua sabedoria religiosa, o que ajudou a travar as perseguições as casas de culto africano. As pesquisas realizadas para saber sobre as nações Oyó, Cabinda, Ijexá e Jêje nos comprovam que o Batuque se estabeleceu aqui no Rio Grande do Sul há quase dois séculos;

Ainda falando da nação Oyó outra contemporânea de mãe Donga de Oxum foi mãe Andrezza Ferreira da Silva, que foi pronta na religião por um velho babalorixá que ainda tinha a sua volta alguns africanos nativos, e ela teria vivido de 1882 a 1951 em Porto Alegre.

Dos descendentes religiosos da raiz de Pai Antoninho de Oxum, os que mais se destacaram foram: a yalorixá Rosália de Xangô, que morreu com 79 anos de idade; morou alguns anos na rua Souza Lobo, na vila jardim, onde tive o privilégio de participar de um ritual de Batuque em seu ilê; sua irmã de ventre e de axé que foi tia Luiza de Ogum que morreu com 78 anos, morou na avenida Saturnino de Brito, 408 na vila jardim, deixou dois filhos, uma é Nelia de Ossãe, que é quem mantém vivo o ritual do Xangô Aganjú do Povo em Porto Alegre, e o outro filho já é falecido. Outra mãe de santo que se destacou muito, uma das mais importantes, depois de Antoninho, foi a sra. Lídia Gonçalves da Rocha, popularmente conhecida como mãe “Moça de Oxum”, que entrou para a religião africana aos cuidados de pai Antoninho de Oxum por motivos de doença e se tornou a mais destacada yalorixá da nação Oyó dos últimos tempos; podemos citar também, Cecília de Xangô Aganjú; mãe Leopoldina de Oxalá que era cunhada de mãe Donga de Oxum; Mocinha de Oxalá; Mário “bocão” se destacou como Alabê (tamboreiro) da nação Oyó e também aprendeu a tocar Jêje com os aquidavis; Jorgina de Xapanã; Dilina de Oxum; mãe Manoela Mendonça de Oxum; Pai Máximo de Odé, que também era tamboreiro; pai Máximo de Odé também foi pai de santo de Tia Valesca, esposa de pai Antoninho; Mijica de Yemanjá; Benjamim de Oxalá; Camarada de Yemanjá; mãe Quininha de Oyá, mãe Andressa de Oxum; mãe Manoelinha de Oxum, mãe Miguela de Xangô, esta Yalorixá foi uma das ultimas a fazer durante os toques, a fogueira de Xangô, e paramentava todos os Orixás com suas vestes e indumentárias; A mãe Oxum de pai Antoninho também se paramentava quando “incorporada” em seu filho, usava suas vestes com muitas pedrarias. Doralice da Silva Alves, conhecida como Chininha de Oxalá, era casada com pai Máximo de Odé, ela também tinha o apelido de “Caquinha” e aprontou outros bons descendentes do Oyó como a mãe Vera de Ossãe e Sarinha de Xangô, que completou 60 anos de assentamento de seu pai Xangô no dia 18 de outubro de 2004; outros da raiz Oyó que podemos citar são as pessoas de Guilhermina de Yemanjá, que era cozinheira da casa de Antoninho, e também fez “pirão” na casa de muita gente antiga do Oyó; João Gumercindo Saraiva, esposo de dona Doralvina; Yatolá de Oyá, pai Darci de Oxalá, entre outros; Felisberto de Ossãe. Outras pessoas que também se destacaram na nação Oyó foram: mãe Apolinária Batista, Olga da Iansã, Fábio de Oxum, Tim de Ogum, mãe Albertina de Obá; Edelvira de Oxalá, pai Acimar de Xangô; Luiz de Bará; Paulinho de Xangô (filho de santo de mãe Rosália de xangô);; Esperança de Oyá; Toninho de Xangô, herdeiro espiritual de pai Acimar de Xangô. Vários informantes dizem que pai Joãozinho de Bará, também teve uma breve passagem pelas mãos de pai Antoninho de Oxum.

Pai Antoninho de Oxum morou no Mont’Serrat, na cidade de Porto Alegre, e segundo consta faleceu no ano de 1932.

E mais recente, na história do Oyó, podemos citar alguns descendentes da geração de mãe Moça de Oxum, que também contribuem ou contribuíram para continuidade dos rituais de Oyó como: Laudelina de Bará; Valdomiro de Oxalá, alabê, Zeca Neto de Oxalá; Carola de Oxum; Eva de Oxum; Leinha de Oxum, (falecida em fevereiro de 2005) e Odete de Oxum entre outros.

Há uma outra grande raiz da nação Oyó que derivou de uma famosa mãe de santo chamada Emília fontes de Araújo, Mãe Emília de Oyá Ladjá. Era descendente de uma família nobre da África, morou na rua Visconde do Herval em Porto Alegre, era contemporânea de Antoninho da Oxum, porém não tinham ligações de bacia, apenas elos de nação. Segundo informações coletadas junto a Pai Paulinho de Agandjú, Mãe Emília faleceu por volta de 1929 e deixou vários herdeiros de seu ritual, onde podemos citar: Mãe Alice de Oxum; Pai Alcebíades de Xangô; Vó Dóca de Yemanjá que morava na av. Praia de Belas esquina com a rua Rodolfo Gomes, Mãe Matilde Fabrício, mãe carnal de Mãe Nenéca de Xangô, que também é herdeira espiritual desta raiz do Oyó; Mãe Cadinha de Odé; Mãe Araci de Odé, que faleceu com 112 anos de idade, e seu Orixá Ode tinha 91 anos de assentamento. Dona Araci fez um ritual de entrega de Axé de Búzios na casa de mãe Ilda de Obá no qual eu estava presente, e até então nunca tinha assistido algo igual. As obrigações do ritual fúnebre de mãe Araci foram feitas por Pai Paulinho de Agandjú, por recomendações expressas da própria Araci, que deixou gravado sua exigência. Eram também da casa de Mãe Emília as pessoas de Negrinha de Odé; Ramiro de Ogum; Dona Rola, esposa de Pai Alcebíades de Xangô.

Mãe Alice de Oxum, se destaca também nesta ramificação do Oyó, deixando vários herdeiros espirituais, entre estes podemos citar a mãe Nicóla de Xangô Dadá, que morou na rua Cuibá, 95 e faleceu em 1975 aos 69 anos de idade, vitima de derrame. Mãe Nicóla deixou vários filhos de santo, um dos que mais se destacou e ainda hoje cumpre os rígidos rituais de sua raiz é a pessoa que nos passa estas informações, Pai Paulinho de Agandjú, com 64 de idade, e seu Orixá com 50 anos de assentamento. Com a morte de Mãe Nicóla, terminou de aprontar na religião alguns de seus descendentes como, Pai Adãozinho de Bará, um dos principais Alabês da Nação Oyó. Pai Paulinho fala com autoridade dos rituais que pratica, como a obrigação de Tumbê, Arikú e muitas outras que ainda mantém; e nos cita como sendo ordem de toque para os Orixás de seu terreiro a seguinte seqüência: Bará, Ogum, Xapanã, Odé, Ossãe, Orunmilá, Obokun, Xangô, Ibejis, Agandjú, Yemanjá, Otim, Obá, Nana Buruku, Yewa, Oxum, Oyá e Oxalá.

Alguns sacerdotes nos dão a informação no tocante aos rituais de Batuque da nação Oyó, dizendo que a ordem de toque para os Orixás em seus terreiros seguem quase a mesma seqüência da nação Ijexá: Bará, Ogum. Oyá, Xangô, Ibejis, Odé, Otim, Obá, Ossãe, Xapanã, Oxum, Yemanjá e Oxalá; e outros dizem que as casas antigas de Oyó, tocavam primeiro para os Orixás masculinos, e depois para as Yabás (Orixás femininos) na seguinte ordem: Bará, Ogum, Ossãe, Xapanã, Odé e Otim, Xangô, Ibejis, Obá, Oyá, Oxum, Yemanjá e Oxalá. O fato é que há varias fontes da mesma nação, cada uma seguindo os costumes de seu terreiro de origem, muitos se vendo num segmento de nação pura, outras mesclando com outras nações, e assimilando outras práticas em seus rituais.

Das antigas nações africanas que se fixaram no Rio Grande do Sul, e que foram submetidas, a variados graus de mudança e assimilação, ressalta a do Ijexá como a que melhor conservou a configuração africana original absorvendo outras nações. Os sacerdotes e iniciados por mais antigos que sejam, nos cultos africanos no Rio Grande do Sul, na maioria, se mesclaram com o Ijexá, esse processo, entretanto, não eliminou de todo a consciência histórica e certas tradições religiosas que predominam tanto no Oyó como também no Jêje e na Cabinda; se alguém tiver alguma informação que possa nos ajudar no resgate a história das nações africanas no Estado do Rio Grande do Sul, por favor entrar em contato via e-mail deste site, pois toda informação é bem vinda.

Homenagens

É preciso lembrar que o batuque continua. Já mencionei, na maioria, o pessoal da antiguidade que deu estrutura à religião, porém, além destes, não posso deixar de homenagear aqueles que nos dias de hoje, tanto os “velhos” como os “jovens” que se dedicam a cultuar e manter firme os fundamentos da nação dos Orixás no Rio Grande do Sul. Por enquanto vamos citar: Pai Ademar de Ogum e Ostilio de Oxalá, Babalorixás e alabês da Nação Ijexá; Marcelo do Oxalá, filho carnal de mãe Pedrinha da Iansã; Emilinha da Yemanjá; João do Oxalá, da bacia de mãe Ilda da Obá; Edemar da Yemanjá, neto de santo de mãe Preta de Oxalá da nação Ijexá; Tia Eva do Ossãe, filha carnal do Pai Idalino de Ogum; lonice de Oxum e tia Ione de Oxum, netas de Pai Idalino de Ogum; mãe Dora de Oxum da cidade de Alvorada (nação Jêje-Ijexá); Jorge de Bará (Jorginho filho de Pai Pirica, nação Jêje); Tião do Bará (nação Jêje), Jorge do Oxalá (nação Jêje-Ijexá); Didi de Xangô da bacia de Pai Adão de Bará; Marquinhos da Oxum, da bacia de Mãe Estela da Yemanjá e Maria da Oyá; Roberto do Ogum, da raiz de mãe Maria da Oyá; Pai Nazário de Bará, da bacia de Pai Mario de Oxum (nação cabinda); Alfredo de Xangô; mãe Nilza de Yemanjá e Yeda de Ogum; Jorge Verardi de Xangô, da bacia de Pai Leopoldo de Yansã; Renato de Ogum, da bacia de Menicio da Yemanjá; Dona Moza de Ogum, da bacia de Idalino de Ogum e Jovita de Xangô, Dona Moza foi esposa de Leopoldo da Yansã; Sirlei da Yemanjá, da bacia de mãe Preta de Oxalá; Maria Antonia de Oxalá, filha de mãe Apolinária, e seus filhos Junior de Bará e Rose de Ogum(nação Oyó); mãe Miguela de Bará da nação Ijexá-Jêje; mãe Santinha de Ogum, da bacia de mãe Estela de Yemanjá; Rosa de Yemanjá e Tereza de Oxum, da bacia de mãe Ovidia de Oxum; Neuza de Bará Ajelú, filha de Almiro de Bará (nação Ijexá); mãe Ofélia da Yemanjá, uma das mais antigas Yalorixás da nação Ijexá;; Janete de Yansã; Mãe Eva do Ogum, da bacia de Pai Idalino do ogum; Vera do Oxalá, filha carnal de mãe Albertina da Obá; Wilian da Yansã; Lola do Bará; Leci do Bará; Celso do Oxalá; Sandra do Ogum; Carlos do Bará; Nitinha de Oxum; Ondina de Xangô da nação Jêje; Marinho de Oxalá; Maria do Xangô; Alabê Marcos do Bará; Vera do Ogum;

Póstumas:

Pai Mauro de Xangô, Miguel de Xangô , da bacia de mãe Estela de Yemanjá; Salvahine da Oxum; Juvenal do Ossãe; Laerte da Yemanjá, da bacia de Menicio da Yemanjá e Olmira de Xangô; Pedrinha da Yansã; Sérgio do Ogum, da bacia de Almiro de Bará; Sérgio da Yansã e Renato de Ogum, da bacia da Catarina de Ogum; Marcelinho de Ogum, da bacia de Menicio da Yemanjá; Delurdes de Xapanã, da bacia da mãe Olmira de Xangô; Luiz Carlos da Oxum, da bacia de Pai Romário de Oxalá; Pai Paulinho da Yemanjá, da bacia de mãe Arina de Bará; Clemir de Bará; Pai Pity de Xangô; Suca de Yansã; Alice de Oxalá, da bacia de Mãe Olmira; Jorge do Ogum, da bacia de Almiro de Bará; Sodré da Yansã; Celso de Bará, da bacia de Tião de Bará; Vó Dora da Yansã; mãe Jovita de Xangô; Pai Hugo da Yemanjá; Tureba de Ogum; mãe Otilia de Ossãe, Pai Chico de Ogum, e outros tantos que se foram para o Orum, mas continuam vivos na memória de seus amigos e descendentes.

Candomblé

O Candomblé é um segmento religioso que pratica as tradições, ritos e crenças africanas, trazidos pelos antepassados, cujos rituais tem origens nas culturas Jêje, Ketu, Angola, entre outras nações que fazem parte das religiões afro-brasileiras.

A cultura religiosa africana foi desenvolvida no Brasil através do conhecimento de sacerdotes negros, que com parte de seu povo, foram capturados e escravizados, juntamente com seus Orixás, entre 1532 e 1888.

Com o “fim” da escravatura em 1888, o candomblé se expandiu consideravelmente, e prosperou muito desde então. Hoje, cerca de 3 milhões de brasileiros declaram ser seguidores das religiões afro, mas acredito que o número seja bem maior, visto que, conforme o local e ocasião os seguidores dizem ser católicos, com medo da discriminação; (os católicos, de acordo com o censo somam 75%, enquanto os que praticam as religiões afro-brasileiras aparecem com 1,5% da população brasileira).

Os negros escravos pertenciam a diversos grupos étnicos, incluindo os Yorubá (Nagôs), os Ewe, os Fon, e os Bantos, que contribuíram não só com seus rituais religiosos, mas, também com a música, dança, alimentação, língua e outras manifestações culturais como o samba, capoeira, em fim a contribuição cultural negra é inestimável. O negro escravizado ao invés de se isolar, aprendeu a conviver entre grupos étnicos diferentes. A religião africana ao chegar no Brasil sofreu uma transformação imposta pela nova fronteira e pela nova sociedade em transformação. O homem africano foi proibido de praticar seus ritos, no entanto nossos Orixás mais importantes chegaram até hoje com a proteção do sincretismo católico, contudo, o negro conseguiu preservar as crenças étnicas principalmente os ritos de iniciação, os cânticos em linguagens africanas, o culto aos antepassados entre outras tradições. Através do tempo os vários cultos foram se transformando até assumirem uma postura mais ou menos fiel a sua origem.

Os Orixás da Mitologia Yorubá, foram criados por um Deus supremo chamado Olorum (Olóòrun) ou Olodumare (Olódùmarè); já os Voduns da Mitologia Fon ou Mitologia Ewe, foram criados por Mawu e Lisa; e os Nkisis (inquices) da Mitologia Banto, foram criados por Zambi, Deus supremo e criador.

Candomblé de Ketu

Ketu é o nome de um antigo reino da África, na região agora ocupada pela República Popular do Benin e pela Nigéria. Seu rei tem o nome de alaketu, de onde vem o sobrenome da conhecida ialorixá Olga de Alaketo. Também indica o nome do povo dessa região, que veio como escravo para o Brasil. Em termos de identidade cultural, forma uma subdivisão da cultura iorubana. Em geral, membros de origem ketu são responsáveis por boa parte dos terreiros mais tradicionais da Bahia. É a maior e mais popular nação do Candomblé, e a diferença das outras nações está no idioma utilizado, no caso o Yorubá, no toque dos seus atabaques, nas cores e símbolos dos Orixás, e nas cantigas; Os fundamentos são passados oralmente por sacerdotes de Orixás que são chamados de Babalorixá (masculino) Yalorixá (feminino). Os rituais mais conhecidos são: Padê, Sacrifício, Oferenda, lavar contas, Ossé, Xirê, Olubajé, Águas de Oxalá, Ipeté de Oxum e Axexê. Uma outra grande diferença é em relação ao culto dos Eguns; existe um sacerdote preparado para este ritual especifico chamado Ojé ou Baba Ojé, que faz o uso de um ixãn para dominar os Eguns; conforme informações de um antigo sacerdote de Ketu, chamado Balbino de Xangô, quem lida com Orixás não lida com Eguns; Já no Rio Grande do Sul, sempre, é o próprio Sacerdote de orixá quem faz os rituais de Eguns.

Os cargos principais na nação Ketu são:

  • Babalorixá ou Yalorixá: autoridades máximas no Candomblé
  • Iyakekerê: mãe pequena
  • Babakekerê: pai pequeno
  • Yalaxé: mulher que cuida dos objetos ritual.
  • Agibonã: mãe criadeira supervisiona e ajuda na iniciação.
  • Egbomi: pessoa que já cumpriu sete anos de obrigação.
  • Iyabassê: mulher responsável pela preparação das comidas de santo.
  • Iaô: filha de santo (que já incorpora Orixá).
  • Abian: novato.
  • Axogun: responsável pelo sacrifício de animais.
  • Alagbê: responsável pelos atabaques e pelos toques.
  • Ogan: tocadores de atabaques.
  • Ajoiê ou Ekedi: camareira de Orixá.

Os Orixás cultuados na nação Ketu são: Exu, Ogum, Oxossi, Logunedé, Xangô, Obaluayê, Oxumaré, Ossaim, Oyá ou Iansã, Oxum, Iemanjá, Nana, Ewa, Oba, Axabó (Orixá feminino da família de Xangô),Oxalá, Ibeji, Irôco, Ifá ou Orunmila.

Na nação Ketu, existente principalmente na Bahia, predominam os Orixás de origem Yorubá, e os terreiros mais conhecidos são: a Casa Branca do Engenho Velho, o Ilê Axé Opô Afonjá, o Gantois; o Candomblé de Alaketu e o Ilê Axé Opô Aganjú localizado em Lauro de Freitas. O Candomblé de origem ketu já se espalhou por todos os grandes centros urbanos do Brasil e também para o exterior, e nota-se um movimento de recuperação de raízes africanas, que rejeita o sincretismo católico, procurando reaprender o yorubá como língua original e tenta reproduzir os rituais que estavam perdidos ao longo do tempo, há casos em que muitos sacerdotes procuram viajar até a África para descobrir mais sobre a cultura dos Orixás.

Candomblé de Angola

Religião afro-brasileira, de origem banto, que compreende as nações de Angola e Congo (Cassanges, Kikongos, Kimbundo, Umbundo e Kiocos), e se desenvolveu entre os escravos africanos que falavam a linguagem Kimbundo e Kikongo e são facilmente reconhecidos pela maneira diferente de cantar, dançar e percutir seus tambores.

Na hierarquia de Angola o cargo de maior importância é para homem Tata Nkisi (tata de inquinces) e para mulher Mametu Nkisi (Mametu de inquices), que correspondem ao Babalorixá e a Yalorixá dos Yorubás, e o Deus supremo é Zambi (Nzambi) ou Zambiapongo (Ndala Karitanga).

O Candomblé de Caboclo é uma modalidade desta nação, e cultua os antepassados indígenas. Há uma nação que faz parte do Batuque do Rio Grande do Sul que descende de Angola, que é a Cabinda.

Os rituais da nação Angola começam com o Massangá, que é o batismo na cabeça do iniciado, feito com água doce e Obi; Bori com sacrifício de animais para o uso do sangue (menga); ritual de raspagem, conhecido como feitura de santo; ritual de obrigação de 1 ano; ritual de obrigação de 3 anos, onde muda o grau de iniciação; ritual de obrigação de 5 anos, com o uso de frutas, obrigação de 7 anos, quando o iniciado recebe seu cargo, é elevado ao grau de Tata Nkisi (zelador) ou Mametu Nkisi (zeladora). Após 7 anos de obrigações, será renovado a cada ano com o rito de Obi ou Bori, conforme o caso, e de 7 em 7 anos se repete as obrigações para conservar o individuo forte, se transformando em Kukala Ni Nguzu, que quer dizer um ser forte. Além dos búzios, outro sistema antigo de consulta é o Ngombo, no qual o adivinhador recebe o nome de Kambuna.

Os principais Nkisi são: Aluvaiá (também conhecido como: Nkuyu Nfinda, Tata Nfinda, Tona e Cubango), Bombo Njila(Bombojira), Vangira(feminino), Pambu Njila, Pambuguera; Nkisi Nkosi Mukumbe, Roxi Mukumbe, Burê; Nkisi Kabila, Mutalambô, Gongobila, Lambaranguange; Nkise Katendê; Nkisi Zaze (Nsasi, Mukiamamuilo, Kibuco, Kiassubangango) Loango; Nkisi Kaviungo ou Kavungo, Kafungê; Nkise Angorô e Angoroméa; Nkisi Kitembo ou Tempo; Nkisi Tere-Kompenso; Nkisi Matamba, Bamburussenda, Nunvurucemavula; Nikisi Kisimbi, Samba; Nkisi Kaitumbá, Mikaiá; Nkisi Zumbarandá; Nkise Wunge; Nkisi Lembá Dilê, Lembarenganga, jakatamba, Kassuté Lembá, Gangaiobanda; Nkisi Nwunji, Nkisi Kaitumbá, Mikaiá, Kukueto; Nkisi Ndanda Lunda; Nkisi Kaiangu; Kariepembe, Pungu Wanga; Kobayende; Pungu Kasimba; Nkita Kiamasa; Nkita Kuna; Lukankazi, Luganbe, Nzambi Bilongo; Mutalambô, Katalombô, Gunza, Nkuyo Watariamba;

Os cargos e divisão do poder espiritual são:
Mam’etu ria Mukixi – Sacerdotisa chefe (Angola)
Nengua ia Nkisi – Sacerdotisa chefe (Congo)
Tat’etu ria Mukixi – Sacerdote chefe (Angola)
Dise ia Nkisi – Sacerdote chefe (Congo)
Tata Kivonda – Pai sacrificador de animais (Congo)
Kambodu Pokó – Sacrificador de animais (Angola)
Muxikiangoma – Tocador de atabaque
Njimbidi – Cantador (Angola)
Ntodi – Cantador (Congo)

Candomblé Jêje

Dahomé, o berço da nação Ewe e fon, denominados Jêjes, no Brasil, enumeram-se em diversas tribos como os Agonis, Axantis, Gans, Popós, Crus etc. Os primeiros povos jêjes tiveram como destino São Luis do Maranhão, onde ainda se mantém vivas as tradições religiosas trazidas da terra mãe, África. Também se encontra o ritual jêje em Salvador, Cachoeira de São Félix, Pernambuco entre outros estados do Brasil como Rio Grande do Sul e São Paulo, que também importou os rituais desta nação.

O negro descendente do Dahomé, hoje Benin, trouxe consigo o culto à suas divindades chamadas Voduns, cujo Deus Supremo é Mawu , a quem são subordinados, assim como Olodumaré o Deus Supremo dos Orixás Yorubás. Diz a Mitologia Fon que Mawu tinha um companheiro chamado Lisa, e são filhos de Nana Buruku (ou Nana Buluku), a grande mãe criadora do mundo. Mawu era a Lua, que teve força ao longo da noite e viveu no oeste. Lisa era o Sol, que fez sua morada no Leste. Quando existia um eclipse dizia-se que Mawu e Lisa estavam fazendo amor. Eles eram pais de todos os outros Deuses. E existem quatorze destes deuses, que eram sete pares de gêmeos. Este relato é um mito do primeiro povo do Dahomé, os Fons.

O culto aos Voduns teve ênfase na Bahia, conhecido como Candomblé Jêje, e no Maranhão Tambor de Mina.

Nos terreiros mais influenciados pela mina jêje, o predomínio, em certos grupos, é de mulheres como filhas de santo. Os devotos têm que se submeter a longo processo de iniciação. Os detalhes dos rituais são pouco comentados, não há rituias públicos de iniciação; a cada comunidade, apenas duas ou três pessoas se dedicam ao ritual completo de iniciação. Em geral as Vodunsis dão poucas informações sobre os rituias relacionados com o culto, os segredos são mantidos a sete chaves.

Assim como os Orixás do Batuque, os Voduns incorporados, conversam com a assistência, dando bênçãos, conselhos, deixam recados e mantêm os olhos abertos. È comum no culto jêje fazer provas com os iniciados incorporados com os Voduns, como, por exemplo, mergulhar a mão no azeite de dendê fervendo.

Algumas casas de jêje tiveram influencias dos yorubás e vice-versa, formando o que se chama de cultura Jêje-Nagô. A exemplo do candomblé, as instalações dos terreiros contam com um barracão central para as danças, pequenas casas reservadas para as diferentes famílias de divindades, onde são mantidos os assentamentos. O forte sincretismo prevê, também a instalação de uma pequena capela com altar católico, há uma cozinha, quartos para dormir e se vestir e quarto onde os iniciados ficam recolhidos durante as obrigações. há também a casa de Legba, onde são feitas grandes obrigações.

A iniciação jêje requer um longo período de confinamento, que pode durar de seis meses a um ano de reclusão, onde um Vodunsi aprende as tradições religiosas jêje como: danças, cantigas, preparo das comidas sagradas, cuidar de árvores e espaços sagrados, votos de segredo e obediência. As entidades são assentadas, recebem sacrifícios de animais , comidas, bebidas e outros presentes. Os assentamentos são preparados em pedras, que representam um “imã” que tem a força do Vodun, e ficam guardadas no quarto de segredo recobertos com jarras, louças e ferramentas. Existem, também, assentamentos em outras partes da casa e do quintal marcados por árvores como a cajazeira, ginja e pinhão branco. È comum ter assentamentos no centro do barracão de danças; assim como em outras nações, no culto jêje também são feitos rituais de limpezas, banhos com ervas e muitas preces. Nos rituais antigos o contato com os voduns dependia muito da vidência das Vodunsis, e a adivinhação era feita através da interpretação dos sonhos, consulta com os Voduns e exame da luz de velas, atualmente é comum o uso dos Búzios para consultar as divindades.

As casas de jêje, além do culto aos Voduns, também incorporam em seus rituais alguns orixás nagôs. O panteão jêje é numeroso, sendo os Voduns agrupados em famílias como: Dambirá, Davice, savaluno e Queviossô.

As atividades religiosas requerem um extenso calendário com rituais reservados aos iniciados, e em festas públicas que duram um, três ou sete dias; no final das obrigações todos comem as comidas preparadas com a carne dos animais oferecidos em sacrifício às divindades.

Mawu é o ser supremo dos povos Ewe e Fon, criador do mundo, dos seres vivos e das divindades. Mawu (feminino) e Lissá (masculino) forman a divindade dupla Mawu-Lissá cujos Voduns são filhos e descendentes de ambos. Os principais Voduns são: Loko; Gu; Heviossô; Sakpatá; Dan; Agbê; Águé; Ayizan; Agassu; Legba e Fa.

A casa de jêje chama-se Kwe, e o local destinado ao culto dos Voduns é chamado Hunkpame, que é o templo onde está dentro a divindade; é chefiado por um sacerdote ou sacerdotisa, que são responsáveis pelos ensinamentos aos futuros Vodunsis.

No Rio Grande do Sul, os terreiros que ainda mantém firme a cultura Jêje, nota-se a conservação de certas obrigações, à exemplo, nos assentamentos de Ogum Avagã cujas ferramentas usadas são as mesmas para o assentamento de Gu no Dahomé, e algumas não tem o uso do okutá; e também há nomes de Orixás que usam o mesmo dos Voduns, como por exemplo Dã, cujo Orixá de uma famosa Yalorixá da nação Jêje chamava-se Dã e um outro antigo Babalorixá de Porto Alegre pertencente a esta mesma nação, tinha o assentamento de Sobô; (Sobô é nome de um Vodun do Dahomé). Dos pais e mães de santos atuais, da nação Jêje do Rio Grande do Sul, muitos desconhecem a palavra Vodun; deve-se este fato ao predomínio da nação Ijexá, de origem Yorubá que acabou absorvendo as demais, e o termo Vodun com o tempo deixou de existir; mas é certo que a linguagem usada nos cantos rituais e o uso dos aquidavís para percussão dos tambores, o uso do Gã (instrumento de percussão), entre outros fatos refletem muito os fundamentos do antigo Dahomé.

Há casos em que as tradições culturais africanas resistem, mais que em outros, à mudança, mas em nenhuma instância, nem mesmo nos terreiros mais antigos e ostensivamente zelosos à suas origens, deixou de existir, contudo, se tivesse, no sul um maior interesse em pesquisar a origem dos fundamentos de cada nação é certo que achariam a ligação direta do jêje praticado aqui, com os povos do antigo Dahomé, e assim por diante.

O que sobrevive da vertente jêje como legado cultural acha-se incorporado ou associado ao acervo Yorubá, embora não se fale em Vodu no Rio Grande do Sul, certas práticas da religião do antigo Dahomé, hoje Benin, pode ser detectadas no Batuque do Rio Grande do Sul, principalmente nos terreiros que fazem parte da raiz do falecido Joãozinho de Bará (Esú Biyí).

Povo Nagô

Estudando os cultos africanos, podemos concluir que a maioria das religiões afro-brasileiras são frutos de uma forte nação chamada de nagô, também denominada Yorubá. Na década de 1930, quando realmente o candomblé ganhava espaço na Bahia, dois grandes líderes religiosos se destacam abrindo caminhos para religião e a comunidade negra em geral, são eles a Yalorixá Eugênia Ana dos Santos, a famosa Aninha de Xangô do Axé Opô Afonjá e o Babalawo Martiniano Eliseu do Bonfim. Estes dois são atualmente os nomes mais lembrados na tradição oral dos terreiros da Bahia, eram reconhecidos como detentores legítimos do saber religioso; conheciam bem suas origens étnicas e culturais. Seres queridos, respeitados e temidos, e são lembrados com muita reverência nos terreiros de candomblé baianos.

A Yalorixá Eugênia dos Santos, Aninha, nascida em 13 de junho de 1869, era filha de Sérgio dos Santos chamado de aniió e Lucinha Maria da Conceição, chamada de Azambrió na linguagem grunce. Aninha dizia que sua seita era Nagô puro, filha de santo de Marcelina Obatossi, que por sua vez era “prima e filha de santo de Ia Nasso”, uma das fundadoras da casa branca do engenho velho (o primeiro terreiro de candomblé da Bahia). Depois de certos desentendimentos, Aninha sai do engenho velho com seu pessoal e vai para uma roça no Rio vermelho onde funcionava a roça de Joaquim Vieira de Xangô (Oba Sãiyá), um dos maiores conhecedores da religião africana da época. Logo Aninha funda o seu terreiro, a casa de Xangô Afonjá, com seu amigo e irmão de santo tio Joaquim, que morreria pouco depois. Aninha passou a ter a ajuda confiável de Martiniano e dos conhecimentos da velha Maria Bada; e com sua boa vontade , seu espírito batalhador e ajuda de todos que a acompanhavam construiu seu ilê axé, chamado Opô Afonjá que deu origem a outras grandes personalidades do candomblé: Maria Bibiana do espírito Santo, Senhora de Oxum Muiwá que recebeu em 1952, o título honorífico de Iyanassô pelo Aláàfin Oyó, da Nigéria; Marcelina da Silva, Oba Tossi; Ondina Valéria Pimentel, filha do Balé Xangô José Teodoro Pimentel; Isolina A. de Araújo; Mestre Didi; entre outros grandes, também, posso citar o meu amigo pessoal Albino Daniel de Paula (Obaraim) filho de santo de mãe Senhora, que foi o único homem a se tornar Babalorixá no Opô Afonjá, e segue firme na prática dos antigos fundamentos. Maria Bibiana do Espírito Santo, Mãe Senhora, era descendente direta da família Asìpá (axipá), e foi depois de mãe Aninha, a mais importante yalorixá do Opô Afonjá.

Martiniano Eliseu do Bonfim foi um membro muito influente dos candomblés da Bahia, desde os fins do século XIX. Era filho de pais africanos, que haviam comprado sua própria liberdade; foi enviado pelo pai mais ou menos aos quatorze anos, a Lagos, Nigéria, e estudou as tradições religiosas africanas de seus antepassados. Voltou à Bahia, onde seus conhecimentos foram reconhecidos e o conduziu rapidamente a fama. Seu pai era da tribo egbá, foi trazido para o Brasil cerca de 1820 e liberto em 1942. O nome de sua mãe era Manjegbassa, era da nação Ijexá, e tinha as marcas da nação no rosto (marcas tribais dos iorubas). Seus pais lhe deram ao nascer o nome de Ojeladê. Martiniano era conhecido e chamado, nos terreiros, inclusive de culto aos eguns, por seu nome nagô Ojeladê. Ficou em lagos durante onze anos; para ele “África” era Lagos, eram os nagôs, os iorubas, sua nação. A ida à África era um importante elemento legitimador de prestigio e gerador de conhecimentos. Martiniano Eliseu do Bonfim e Eugênia Ana dos Santos eram grandes amigos, e é sabido que o Babalawo colaborou largamente com a Yalorixá, inclusive na estruturação do grupo dos Obás ou Ministros de Xangô, no Axé do Opô Afonjá; recebeu de Aninha o honroso título de Ajimudá, o que marcou o profundo respeito e consideração que a yalorixá tinha pelo sábio Babalawo e vice-versa. Estes fatos mostram que muitos rituais praticados hoje em terreiros baianos seguem algumas raízes, também, da nação Ijexá oriunda da Nigéria. Outro contemporâneo de Martiniano e Aninha foi Eduardo Ijexá, que também se destacou como grande Babalawo dos candomblés baianos; como se vê a nação Ijexá tem muitos frutos espalhados por solo brasileiro.

Aqui no Rio Grande do Sul, o maior destaque da nação Ijexá foi o sr. Manoel Antonio Matias, Manézinho de Xapanã, nascido em 17 de junho de 1896. O Orixá de Manézinho trouxe a maioria das rezas cantadas nos dias de hoje nos batuques. O pai Xapanã “chegava no mundo” e pegava o tambor para tocar e ensinar as rezas (cantigas de Orixás) para seus filhos de santo. Era conhecido como mão pelada, pelo poder de seus Feitiços, viajava muito, pois adquiriu fama em todo território sulino. Dizem os antigos sacerdotes que Manézinho fazia um breve muito poderoso que em seguida endireitava a vida das pessoas que usavam. até seu pai de santo, Paulino de Oxalá, temia o Xapanã Jubiteiú de Manézinho. Outra famosa Yalorixá da Nação Ijexá foi tia Antonia de Bará, filha do Pai Paulino de Oxalá Efan, porém, aprendeu todos os rituais de nação, no terreiro de Manézinho. Tia Antonia faleceu aos 96 anos de idade no dia primeiro de dezembro de mil novecentos e noventa e oito e deixa como herdeiras de seu axé as yalorixás Maria Helena de Xangô e Lurdes de Ogum, suas filhas de ventre.

Toda a religião de origem africana tem o mesmo propósito em sua crença, em qualquer nação africana, o ritual em sua essência é quase o mesmo, usando as mesmas determinações, como o sacrifício de animais, toques de atabaques, cânticos na linguagem de origem, rigidez nos rituais de iniciação imutáveis em qualquer nação africana, fato que deveria contribuir mais para a aproximação dos terreiros em vez da rivalidade que se instalou nos cultos através dos tempos, acho até que todas as religiões deveriam se unir visando o bem comum da humanidade, visto que, há tantas desgraças, “temos recebido tantos recados” como aquele terrível acontecimento que abalou a Ásia no final de 2004, e vem se repetindo assiduamente e ainda assim, não procuramos entender o que os seres superiores estão nos mostrando.

error: Conteúdo protegido !!